domingo, 23 de dezembro de 2012

Leitura dinâmica.


Matuto tem a gota pra dar nome de santo aos filhos. Consulta até folhinha. Dia de São Expedito, e a coitada ganha uma Expedita. São Raimundo, e a Raimundinha é a graça do colégio. Às vezes, Benta, Ambrósia, Adeodata, Teodora etc.

Quando não é isso, é a junção de nomes: Pedro e Onilda, Petronilda; João e Ana, Joana (esse até que cola); Honório e Esmeraldina, Honorina;  e assim vai.

Contam que Valdomiro, casado com Regina, não podendo comparecer ao batizado da filha, recomendou ao padrinho: o nome da menina, compadre, é Valgina. Valgina! ouviu?  Não esqueça o “L”.

Devido a carraspana, que sói acontecer em batizados, o nome da afilhada esfumaçou na cabeça do compadre que entretanto não olvidou o lembrete: não esqueça o “L”.

Na Igreja, o padre indulgente: qual o nome da menina?  E o nome não vinha. E o vigário insistia: mas qual a graça da pagã? Num esforço hercúleo, cuspiu-se: BUCLETA.

Com a leitura dinâmica acontece a mesma coisa.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Do trabalho pra casa.


Navegando pelas calçadas, ao som de Mução. Buenos Aires, Hora, Amélia, Futuro, Encanamento; rota batida e rebatida. Pingo d’água. Lembra-me Viana. Ritmado, o sujeito tocava vários instrumentos. Andava com uma sanfona na mala do carro. Acompanhavam-na uma zabumba e um triângulo.

Certa feita, engendrou uma quadrilha na “Mansão do Fera”. Benedito, tu tocas a zabumba. Prezado, essa mão que Deus me deu toca apenas sete letras no banheiro, e nada mais. Não teve jeito. E foi assim: no começo da música ele fazia a batida e eu a repetia  até o fim.  Tocamos a noite toda.

Às vezes, o inusitado. Na Jaqueira, encontrei o colega Paulo Sérgio. Conversamos por meia hora. Mais adiante, toca o telefone. Papai, o Senhor lembra que me prometeu uma pizza? Meu anjo, estou andando. Mas o senhor prometeu.

E lá vou eu atrás de uma pizzaria. O senhor tem direito a um refrigerante de dois litros. Não pode levá-la na vertical, tem que segurar como se segura uma bandeja.

Mais de um quilômetro com uma pizza em uma das mãos e um guaraná na outra.  Pelo caminho, ainda ouvi algumas gracinhas . . . A carinha de satisfação de Bia compensou.

Fui.

sábado, 3 de novembro de 2012

A verruga

Várias pesquisas mostram relação entre a simetria do rosto e a beleza. Quanto mais simétrico o rosto, mais bonita é a pessoa, reforçando a feminilidade e a masculinidade. 


Problemas de saúde e defeitos genéticos podem causar assimetria. Indivíduos com boa genética e corpos saudáveis são mais simétricos, motivo por que as mulheres, de antemão, tendem a preferir homens com rostos másculos, que garantiriam bons genes aos filhos, principalmente durante o período fértil.


Não sei por que, mas acontece o mesmo com os homens. A preferência é pelas bonitas. Mas quem não tem cão caça com gato (acomodação é medida de falta de ímpeto). De maneira que não é incomum mulheres de “feição fraca” se darem bem.


Dizem que nesses casos se busca a beleza interior (esse, com efeito, foi o motivo por que a mulher de Michel Temer se casou com ele). Sei não. Só se for a do intestino. Com certeza, não é por esse motivo que as academias de ginástica vivem cheias. E se formou a dicotomia: mulheres feias de rosto, porém “saradas”.


Pra desespero das malhadoras, os músculos do rosto obedecem fielmente à lei da gravidade. Mas não só eles. Por óbvio, os dos peitos também. À símile com o órgão sexual masculino, o que antes olhava para o céu, com o passar para o horizonte, hoje embica para o chão. Apesar de  os brutos assegurarem que não se come cara, tampouco peito.


Mas há o silicone peitoral. É uma coisa impressionante. Bolas macias, consistentes e imponentes. Bola de festa cheia de água. Boa de pegar, de apertar (a suavidade é fundamental para evitar-se vazamento). O mesmo não se pode dizer dos enchimentos faciais. Caras de boneca em pescoços de “gogó de sola”. 


Quando se parte para o esticamento, a coisa degringola. Verdadeiros monstros. Betty Faria (atriz) está parecendo o ator Aurino Xavier travestido de Chupingole (A casa de Bernada e Alba – trupe do barulho). Duas bolas de ping-pong nas bochechas.

Tergiversei.



Conheço um sujeito horrível. Papa figo faz medo a menino, ele faz medo a papa figo. Até o nome é feio. Não vou dizê-lo pra evitar constrangimento. Além disso, é liso, o que descarta influência monetária no que vou dizer a seguir. 


Tem mulher oficial e algumas amantes. Todas bonitas e apaixonadas por ele. Não creio que seja por causa de qualquer beleza. Pode ser que seja a sua maneira de tratá-las. Sei não.

Uma amiga me contou que conheceu um sujeito com as mesmas particularidades, e que se descobriu que ele tinha uma verruga na cabeça do pau.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Quem tem cu tem medo!


Recentemente, li numa revista, se não me engano a Contra Relógio, reportagem sobre James F. Fixx. O “dito cujo” ficou famoso à conta do Livro “Guia Completo de Corrida”, publicado no final da década de 1970.

Comprei o guia na extinta “Livro sete”, já na sua sexta edição, no início da década de 1980 (naquele tempo, já dava umas corridinhas na Jaqueira). Gostava muito de seus ensinamentos que, com efeito, valem até hoje.

Para minha surpresa, o autor morreu de infarto aos 52 anos, acho que em 1983, quando fazia o seu treino matinal diário de 16Km. Inteirando-me de sua vida pregressa, descobri que se tratava de ex-obeso com histórico familiar de infarto e outras “coisitas” mais, e que era muito competitivo. Malgrado a consistência de suas lições, não as seguia à risca.

O seu mal, que é o mal dos incautos, foi pensar que a corrida seria imunizante natural, o que efetivamente é uma inverdade. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Quem tem cu deve ter medo. Principalmente quem pretende ser “atleta” após os 40.

Bebi e fumei durante 26 anos. Entornar o precioso líquido era religião. Toda sexta, ou a partir desse dia, reverenciava o deus Baco, aceitando os seus desígnios de forma inconteste.

O cigarro companheiro inseparável, amigo de todas as horas. Se sentava no trono, acendia "umzinho"; depois de uma refeição, outro; depois do sexo, não poderia faltar. A coisa era tão séria que o acessório, às vezes, suplantava o principal. Perdi a conta das vezes que saí de madrugada pra comprá-lo. Quem já foi viciado, sabe bem do que estou falando.


Já faz dez anos que corro de forma regular. Vez ou outra, ainda tomo umas cervejas (a última vez foi há dois anos). Cigarro jamais. Mas tenho plena consciência de que não é por isso que vou me livrar das doenças que atingem os que fumam, bebem e são sedentários.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Fala Sério


Fala Sério. Não sou Imelda, mas tenho trinta pares de tênis. É por causa das corridas, e por pura paixão mesmo. Em média, R$ 250,00 por tênis. Quando tem promoção, compro até sem precisar. Tenho dois pares sempre de reserva, sem uso.

Prefiro isso a gastar com restaurantes. Acho um desperdício gastar R$ 150,00, R$ 200,00 e até mais num almoço ou jantar. Prazerzinho curto. Depois de algumas horas, tudo no vaso. E do vaso pra o esgoto.

Dia desses tive até pesadelo. Não sou muito de lembrar sonhos. Dizem que isso é sinal de demência. Sei não. Acho que foi por conta de um episódio.

Fui a certo restaurante por causa de convite de amigos, que afinal de contas são amigos. O cardápio ininteligível. Nomes estrangeiros, se não me engano franceses __ pra aguçar o sabor e justificar o preço. Garçom! De que se trata? Isso mais aquilo e tal. Pronto, quero esse.

Um cocô. Esse era o formato da comida. Um montinho de arroz com alguns filetes dourados por cima e pequenos pedacinhos de carne. Um cocô decorrente de má digestão . . .

Comi pelas beiradas, a contragosto.
Mas tudo pelo social.

sábado, 13 de outubro de 2012

Maratona Maurício de Nassau 2012







Resenha da Maratona Maurício de Nassau 2012.
Há mais ou menos duas semanas, estava me sentido muito bem. Baixei em 10 bpm, em média, a freqüência cardíaca dos treinos. Mas Murphy não perdoa. Terça-feira passada senti a panturrilha. A bendita panturrilha, de repetidos tratamentos fisioterápicos. 
Gelo. Calminex animal.  Repouso. Nada. Absolutamente nada adiantou. A dor  insistiu em tirar o meu sossego. Corri 10Km no sábado. Lá estava ela. Pensei em desistir da maratona. Mas não sou de morrer de véspera, feito peru.
Preparei o arsenal e danei-me pro marco zero. Disse ao comparsa George: se a dor aumentar, paro em qualquer ponto; se for suportável, faço a meia (21Km).
O azul do céu mais azul do que nunca. Nenhuma nuvem arredia. Adrede comprara o Sundow Sport (proteção de 5 horas). Melequei-me mais de uma vez. Cá comigo, pensei que seria suficiente pra enfrentar o astro rei. Ledo engano. Tô feito tigre (alusão aos tigres de Laurentino Gomes em 1808).
No quilômetro 15 senti uma fisgada. Pensei: estourou, rompeu . . . já sentira a sensação em corridas anteriores. A dor ficou insuportável. Cogitei  parar. Mas já que faltavam apenas 6 Km pra 21, insisti.
Avistei de longe a multidão vibrando no Marco Zero.  Caminho à esquerda, os que continuariam; à direita, os que parariam. O mestre George dispara: E aí Benedito, dá pra continuar? Duas horas e 10 min até então. Continuei.
Voltar pra Boa Viagem com aquela dor e com o sol a queimar o lombo não foi fácil. Com efeito, foi a maratona, dentre as 10 que já corri (3 São Paulo, 2 Rio, 1 Foz de Iguaçu, 1 Porto Alegre, 3 Recife),  que mais me exigiu o  controle da mente . . .
E fui engolindo os quilômetros. E o sol continuou queimando.  Queimando profundo. E a panturrilha doendo.  Mas e eu sou de desistir? Não sou não. Arrastei-me até a chegada, correndo acima de 7 min/Km, nos últimos 3 Km. Cheguei com 4:30 hs (há três semanas correra 30 Km  em 3 hs).
Estou só o bagaço. Moído. Mas estou vivo. Renovado. De bem comigo mesmo . . .

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

sábado, 18 de agosto de 2012

Perdidos no espaço.


Ao ver foto do seriado “Perdidos no Espaço”, passou um filme na minha cabeça. Lembrei da Telefunken que ocupava a sala de visitas da minha casa em Vicência. Um dos poucos televisores da cidade. Toda noite, a janela ficava pequena para tantos telespectadores.

Na linha, lembrei da escola onde fiz o primário: Juvenato Padre Guedes, ao lado da Igreja de Santa Ana, padroeira da cidade. Aos seis anos,  já empunhava o Almanaque Fontoura com a história de Jeca Tatu. Doido pra começar a estudar. Não conseguia fazer matrícula, era muito novo. Naquele tempo, iniciava-se os estudos só aos sete.

Estefânia Carneiro da Cunha, a diretora, dizia a minha mãe: deixa ele ficar Irene, fica aqui comigo na Secretaria . . .Tive o privilégio de conhecer  tão digna senhora, que hoje empresta o nome a uma das principais avenidas da cidade.  Irmã de Otaciano Carneiro da Cunha, padrinho do meu pai.

E as brincadeiras eram tomar banho de rio, fazer cabana, esconder-se, jogar pião, lançar  ferro na praça quando o barro estava mole etc . Na rua, solto feito bode. Lá vai o filho de seu Benedito, de seu Carlos Sena e de seu Hemetério, de seu Aurinho . . . era a turma.

Vez ou outra, uma cabeça lascada. Um sujeito que morava no beco da Biblioteca era desprovido de  pestana, motivo por que tinha a alcunha de “sem pestana”. Paciente, mas nem tanto.  E a toada quando se passava no beco era essa: sem pestana, sem pestana, sem pestana . . . E a resposta eram as pedradas . . . Era uma correria medonha.

Por puro lance de sorte, conseguiu o sem pêlo acima dos olhos atingir a cabeça do meu irmão mais novo. Foi um chororô. Papai ficou indignado. Mandou chamá-lo. E você pode jogar pedra na cabeça dos meninos seu Sem Pestana? Que bobagem é essa? Por acaso você tem pestana? Malgrado o talho, ficou por isso mesmo . . .

Comia-se bem. Mas se comia o que havia pra comer. Não tinha essa historinha de predileção por comida. Aniversário, coisa rara. Coxinha, docinho, salgadinho etc. nada disso fazia parte do cardápio. Dentista? Só fui quando tive dor de dente, aos sete ou oito anos. Lembro ainda da assustadora broca movida a pedal.

Telefone, só nos filmes. Por incrível que pareça, a engenhoca só aportou na cidade no começo dos anos 1990. Mas todos sabiam da vida de todo mundo. Até os detalhes mais  íntimos . . .

Estou com cinquenta e dois. Bia tem seis e meio.

Já lê, arranha a escrita, e entende de internet, arquivo, pen drive, mouse etc. Tem celular. Ficou impressionada com um telefone analógico que descobriu no banheiro de um Hotel. Papai, pra que servem esses furinhos?

Galinhazinha de granja, o seu espaço é o do prédio. Rua só acompanhada . . .

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Israel!


Israel. Esse era o nome dele.

Nos idos de 1994, encantei-me por uma casinha de boneca em Enseada dos Corais. Por puro lance de sorte, e de muito insistir com a colega Bruna, consegui comprá-la.
Gostava muito da praia, principalmente da ponta do Xaréu.

Herdei o caseiro. Sujeito baixinho, cara de fuim, zambeta e com problemas nas glândulas sudoríparas; só suava por um dos sovacos.

Pense num sujeito metido! Era o resolve tudo a todo momento. Faltou energia, chama Israel; a telha quebrou, chama Israel; a porta emperrou, chama Israel . . . E ele se gabava: só não faço chover.

Vez ou outra, o via jogando futebol. Brabo. Todos do time tinham medo dele.

Era casado com uma mulher bem mais jovem. E até bonita. Deus no céu e Israel na terra.

Certo dia, a bomba quebrou. Israel tinha ido resolver um problema em Gaibu.  Fui no Cabo de Santo Agostinho e comprei uma nova, pelo que o dono do armazém mandou um funcionário fazer a instalação.

Apesar de inúmeras tentativas, a nova bomba não funcionava de forma adequada. A mulher de Israel à espreita. Dava muxoxo. Ia pra frente, ia pra trás. Impacientava-se. Determinada hora, ela olhou pra o instalador e disparou: deixa isso aí, quando Israel chegar ele ajeita . . .

Por uma estranha associação, lembrei-me dos versos de Elizabeth Browning:

AMA-ME POR AMOR DO AMOR SOMENTE.

"Ama-me por amor do amor somente.
Não digas: “Amo-a pelo seu olhar,
o seu sorriso, o modo de falar
honesto e brando. Amo-a porque se sente
minh’alma em comunhão constantemente
com a sua”. Por que pode mudar
isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
do tempo, ou para ti unicamente.
Nem me ames pelo pranto que a bondade
de tuas mãos enxuga, pois se em mim
secar, por teu conforto, esta vontade
de chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
me hás de querer por toda a eternidade."

Andar de ônibus!


Cinco e meio quilômetros. É essa a distância de casa pra o trabalho.

O motivo por que me mudei pras bandas de Casa Amarela foi a proximidade da Cidade Universitária e da Agamenon Magalhães. No final da década de 1990, o trânsito era bom nos dois sentidos. A Estrada do Encanamento fazia por merecer o nome. Aparência de interior.

Falta de planejamento, licenças inescrupulosas para construção de edifícios, aumento do poder aquisitivo, e conseqüente aumento de carros circulando etc. resultou no que resultou.

E eu de expectador, inerme. Ma non troppo. Introjetei a mim mesmo na busca de solução. Fui beber em fonte de águas revoltas, de há muito esquecida.

Voltei à motocicleta. Motoqueiro antigo, com algumas quedas no currículo. O astro rei, aliado à imprudência e à imperícia dos motoristas, me fez desistir.

Aderi ao caminhar. Persistia o problema solar pela manhã. Camaleão tentou adaptar-se: protetores, roupas especiais, sombra etc. Nada que impedisse o suor e seus incômodos todavia. Tomar banho no trabalho foi a solução.

Mas como Raul, prefiro metamorfosear, destruir opiniões formadas sobre tudo. Assim foi que, como Angélica (no sentido da música), decidi ir de táxi e voltar andando.

Ainda não satisfeito, aventurei-me nos coletivos. Não tive sucesso com os da 17 de agosto. Sorte diversa tive com o que sai do Córrego da Areia. O nome pode ser esquisito, mas o trajeto não podia ser melhor. Pego-o a 200 metros de casa, deixo-o a 50 metros do trabalho.

Não sei por que boa parcela da população tem aversão a ônibus. Sinceramente, arrependo-me de não os ter “descoberto” há mais tempo. Poderiam ser melhores, reconheço, mas nada que justifique a opção pelo automóvel nesse trânsito infernal . . .

E ainda tem o inusitado das coisas. Dia desses, casal de evangélicos entoaram hino ao longo do percurso. O homem esboçava reação inequívoca de sua convicção por aquilo que cantava.

Queria ser assim. Mas as dúvidas não me largam . . . 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Animais de Estimação.


Um bichinho da família chelidae, grupo dos quelônios, ordem testudinata, conhecido como cágado, veio engrossar a lista composta por dois guaiamuns __ que completaram um ano na varanda __ dois peixinhos, três gatos e duas vira-latas, que perfazem a coleção de animais de estimação de Bia.

Estou a pensar que, com esses aumentos inesperados, daqui a um tempo terei efetivo zoológico __ bem esquisito, diga-se de passagem. Mas não é fácil cuidar dos bichos. Cada um com suas particularidades.

Foi grande surpresa descobrir que o guaiamum vive por muito tempo (em torno de quatro anos) e que tem algo mais na cachola, além de bosta. Sempre o vi como “patas”, e só “patas” com cerveja.

Pois não é que os meus gecarcinídeos demonstram comportamento adaptativo ao ambiente humano: de dia ficam embaixo de uma caixa de papelão; à noite, passeiam, tomam banho, defecam na água e se sentem os maiorais. Um deles, o maior, já deixa que o peguem . . .

O carapaçudo é mais difícil de criar, pois é mais suscetível a doenças, principalmente a fungos. Sua alimentação tem que ser balanceada, sob pena de amolecimento do casco etc. Descobri que ele hiberna.

A adaptação com os caranga se deu em dois dias. Cogitei a possibilidade de as patolas degolarem o pescoço de cobra do chelidae, o que efetivamente não aconteceu. Dormem todos juntinhos . . .

Os peixinhos (dois), há mais de um ano no aquário, quase saem da água na hora da ração, e já se deixam pegar, com certa facilidade, quando da troca da água.

Mas deixo de lado esses animais de “difícil” interação e passo àqueles que, parece-me, são os melhores amigos do homem.  

Aprendi a gostar de cachorros. Comecei a criá-los na década de 1990. Chequei a ter oito adultos. Todos da raça Boxer, com exceção de uma vira, que conto a estória logo mais. Gostava daquela cara feia a contrastar com a doçura peculiar da raça.

Os nomes tentavam refletir a personalidade: Lion, de rei leão; Xuxa, a albina; Madona, a marrom (a mais safada), e Davanira (davanira é ela, tira a sua roupa da janela!), a vira, que com efeito merecia um nome mais imponente, à altura de sua inteligência.

Assim como gente, cachorro tem personalidade. Lion, Xuxa e Madona eram irmãos. Foram comprados ainda mamando. Logo nos primeiros meses se via a enorme diferença de comportamento: Xuxa mais arredia; Madona mais manhosa, mais carente; Lion, o senhor do pedaço, amigão de todas as horas, impreterivelmente.

A Davanira foi encontrada na rua. Vira-lata vagabunda, sempre foi escanteada pelos de raça; mas nunca pelo seu dono. Divertia-me com as palhaçadas dela. Chupava chupeta e assistia televisão. Lembro de sua primeira gravidez. Eu fiz o parto, porque ela ficou desnorteada. Em nenhum momento teve receio ou me estranhou. 

Pois bem. À conta de os Boxers não gostarem dela e de eu não morar em Aldeia, ela se apegou ao caseiro, e com efeito passou a fazer parte de sua família. Quando este se aposentou, dei Davanira pra ele, a contragosto entretanto.

Passou-se um ano. Perdi Lion pra uma neoplasia. Xuxa, não sei como, caiu na piscina e morreu afogada. Madona teve problemas no parto e ficou meio adoentada. Soube que o caseiro tinha morrido e que Davanira tava couro e osso. Mandei buscá-la. Paguei R$100,00 reais a um sujeito pra encontrá-la e levá-la na Chácara.

A sua chegada foi medonha. Nem mais andar direito ela andava. O pelo tinha caído em virtude de uma sarna. Apesar disso, quando me viu deitou-se e rolou, como fazia quando era novinha, e urinou-se. Aquilo me partiu o coração . . .

Fiz o seu tratamento. Em pouco tempo, tava boa de novo. Morreu velhinha . . .

Senti muito a perda dos boxers. Principalmente dos primeiros. Mas a vida é assim. Nada é pra sempre . . .

Hoje, a pretinha e pirilampa (nome dado pelo caseiro). Esta última foi sobra de Milton, comparsa nas corridas, que se mudou de uma casa para um apartamento . . . Pretinha não; fui adrede buscá-la na “Brasilit”.

Mas não estou tão apegado. Acho que é mecanismo de defesa à dor da perda.

Os gatos. AH! Os gatos são outra história. Peguei-os em frente à chácara. Deixaram de propósito. Num primeiro momento, pensei tratar-se de três gatas. Só se descobriu que eram dois gatos e uma gata quando os mandei ao veterinário . . . De modo que os nomes femininos ficaram meio esquisitos . . .Mas nem tanto, pois os machos foram capados. Fazer o quê? Ou era isso ou era perdê-los pra uma “gata”.

E falando em gata, a adequação do nome do bicho para a mulher não se funda apenas no componente visual. Tem que haver manha, malícia, mistério. Pois assim é a gata bicho. Diferentemente da cadela que, incondicionalmente, vulgarmente, rasteiramente, revela o seu apego __ ipso facto uma cadela __  a gata espera que a procurem, faz charme, levanta o rabo, roça-se sorrateiramente em sua perna . . . E nem pense em aprisioná-la . . .

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Caminhada 30072012

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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Andar a pé pelo Recife


Não pense que é fácil  andar a pé pelas ruas do Recife, pois que não é. Além da falta de passeios públicos, dos esgotos a céu aberto, da iluminação precária, da falta de segurança, existe um problema ainda maior: falta de respeito dos motoristas pelo pedestre.

Vou eu caminhado pela rua do futuro e deparo-me com uma das inúmeras “calçadas estacionamento”. Desvio pra pista ao mesmo tempo em que um motorista manobra um automóvel pra sair da calçada. O que ocorre? Ou corro pro meio da pista ou sou atropelado.

Vou eu passando na faixa de pedestre e o sinal abre para os automóveis. O que acontece? Corro ou sou atropelado, no mínimo por uma motocicleta.

Vou eu caminhando em frente a um Shopping ao mesmo tempo em que um automóvel vai saindo. O que ocorre? Ele toma a dianteira, inexoravelmente, forçando-me a esperá-lo sair. Dia desses uma gordinha fez isso comigo em frente a um mini Shopping que fica na Estrada do Encanamento. Nem olhar pra mim a bochechuda (disse bochechuda) olhou. Tava numa ânsia desenfreada de sair. Vade retro.

Mas falando em expressão latina, ocorreu-me a seguinte pra retratar a situação: REM facias, REM, si possis, rect, si non, quocumque modo REM (Horácio 65-8 a.C) – “Que a todo custo enriquecer procures, honrada ou torpemente”, na tradução de Giannetti, nosso filósofo da moda.

Numa alusão a Quentin Tarantino, poder-se-ia indagar o que tem a ver o cu com as calças. Mas se tudo tá ligado!? É a ânsia desenfreada do ter a todo custo que faz com que as pessoas ajam assim.

E não venha com essa conversinha de feicibuk de quem gostar compartilhe, pois que de boas intenções o inferno está cheio. Eu quero ver é na prática, na chincha. E o que mais se vê com efeito é ostentação. O sujeito se sente superior até por usar paletó.

Tergiversei, como diz José Teles na sua cansada coluna do Jornal do Comércio.

Mas é porque tudo se amalgama.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Aprendendo a correr Maratona


Tudo na vida se aprende. Estou aprendendo a correr maratona. Essa foi, sem sombra de dúvidas, a minha melhor maratona (não a mais rápida). Mas vamos ao relato.

Boné, óculos, cinta cardíaca, relógio, celular, meia, protetor de dedo, vaselina, protetor solar, ipod, dinheiro, plástico, polaina, água . . . táxi, sono, cocô, xixi, despertador. E a capa de chuva? Esqueci.

Tempo bom. Táxi às 4:30hs. Aterro do Flamengo. Ônibus rumo ao Recreio dos Bandeirantes às 5:00hs. Motorista, desliga o ar condicionado! O fela da puta não desligou. Frio da porra. Gelo. Chuva. Muita chuva. E agüentei a situação até o pontal do Tim Maia. Pensei em desistir. Não sou pingüim.

Mas se vai na dança é pra dançar. Na chuva, é pra correr.

Tremia mais do que vara verde. Arbustos irrigados constantemente. E a porra da capa de chuva que voou comigo? Esqueci.

Começa a prova. Curtição geral. Paisagens belíssimas. Mulheres malhadas. Shorts apertados. Curvas acentuadas. E o passo na base do compasso. Sem sair da casa dos 6 min por quilômetro.

Mais arbustos. Fotos. Número 2. Dez Km. Vinte. Tudo em ordem. E o passo na casa dos seis minutos por quilômetro, impreterivelmente.

Túnel do Joá. Barra. Ladeira de São Conrado. Olho pra o mestre George e disparo: vamos aumentar o passo. E assim foi que do Leblon até o aterro do Flamengo comeu-se de coco boa leva de corredores. Nem percebi a barreira dos 32 Km.

Cheguei dando pique. Completamente em forma.

Sem surpresas. Com efeito, estou aprendendo a correr maratona.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Argumento e falácia



A lógica preocupa-se com os argumentos. Um argumento consiste em mais do que um simples enunciado; consiste na conclusão e na evidência corroboradora.

Os argumentos, via de regra, são elaborados com o objetivo de convencer. A lógica formal (ou simplesmente lógica) não se interessa, no entanto, pelo poder de persuasão que os argumentos possam ter. Há argumentos logicamente incorretos que convencem, e há argumentos logicamente impecáveis que não têm nenhum poder de persuasão.

Grosso modo, um argumento é uma conclusão que mantém certas relações com a evidência corroboradora. Com um pouco mais de precisão, um argumento é uma coleção de enunciados que estão relacionados uns com os outros. Um argumento consiste assim num enunciado que é a conclusão e num ou mais enunciados de evidência corroboradora, que são chamados de premissas.

As premissas de um argumento devem, em tese, apresentar evidências que corroboram a conclusão. Apresentar a evidência nas premissas requer duas coisas: primeira, que as premissas sejam enunciados de fato; segunda, que os fatos apresentados sirvam de evidência para a conclusão.

Há, consequentemente, duas maneiras de conceber a possibilidade de as premissas não servirem para a apresentação da evidência. Pode ser que uma delas, várias, ou todas, seja falsa, ou pode ser que não esteja adequadamente relacionada com a conclusão. Assim, quando se apresenta um argumento, deve-se perscrutar a veracidade das premissas e se elas estão relacionadas com a conclusão que se quer justificar.

As premissas de um argumento logicamente correto sustentam a conclusão se a verdade das premissas for motivo bastante para asseverar a verdade da conclusão, independentemente de sua veracidade.

As premissas de um argumento logicamente incorreto podem dar a impressão de que sustentam a conclusão, embora na realidade isso não aconteça. Argumentos logicamente incorretos são chamados de falácias. É errôneo dizer-se que um argumento é falacioso apenas porque uma ou mais premissas sejam falsas.

Numa de suas célebres aventuras, Sherlock Holmes esbarra num velho chapéu de feltro. Embora não conheça o seu proprietário, Holmes conta a Watson muita coisa a seu respeito __ afirmando, entre outras coisas, que se trata de um intelectual. A afirmação, como foi feita, não dispõe de qualquer apoio. Holmes podia saber da existência de evidências, mas não as deu.

O Dr. Watson, como de hábito, não percebe o que se passa e pede, assim, que Holmes o esclareça. Em resposta, Holmes coloca o chapéu na cabeça. O chapéu resvala pela sua testa e apóia-se no seu nariz. É uma questão de volume, diz ele; um homem com uma cabeça tão grande assim deve ter algo dentro dela. A afirmação de que o proprietário do chapéu é um intelectual não está mais sem apoio. Holmes oferece a evidência e a sua asserção está, agora, devidamente apoiada.

Pode-se reconstruir o argumento de Holmes, da seguinte forma:
1.   Há um chapéu grande.
2.   Alguém é o proprietário deste chapéu.
3.   Proprietários de grandes chapéus têm grandes cabeças.
4.   Pessoas de grandes cabeças têm cérebros grandes.
5.   Pessoas de cérebros grandes são intelectuais.
6.   O proprietário deste chapéu é um intelectual.

Pode-se achar insatisfatória a passagem do tamanho do chapéu para a intelectualidade de seu proprietário, mas isso é um engano, pois que o argumento é legítimo __ não é falaz __mas contém uma premissa falsa, pois que nem todas as pessoas de cabeça grande são intelectuais (a lógica não se interessa pela questão de saber se as pessoas de cérebros grandes são intelectuais).

No exemplo a seguir, tanto as premissas como a conclusão são verdadeiras, mas o argumento é incorreto, pois que a conclusão não se sustenta nas premissas.

Premissas: Todos os mamíferos são mortais.
                  Todos os cães são mortais.
Conclusão: Todos os cães são mamíferos.

Poderíamos ler o argumento da seguinte forma: Uma vez que todos os mamíferos são mortais e todos os cães são mortais, eles também são mamíferos. Essa é a famosa falácia da afirmação do conseqüente. Outro exemplo: “Se o universo tivesse sido criado por um ser sobrenatural, haveria ordem e organização em todo lugar. E nós vemos ordem, e não esporadicidade; então é óbvio que o universo teve um criador.”

Os políticos sabem dessas coisas. Vejam o argumento. Todo homem honesto merece o voto do eleitor. Eu sou honesto, logo, mereço o seu voto. O argumento é válido, como se vê, mas a premissa maior não é verdadeira (o argumento poderia ser descrito da seguinte forma: Todo aquele que não rouba merece o voto do eleitor. Eu não roubei, logo, mereço o seu voto). A honestidade não é, por si só, motivo pra se votar em determinado político.

Outra. Todo prefeito que trabalha sério merece ter o mandato renovado. Eu trabalhei sério, logo, mereço ser reeleito. Trabalhar sério não é sinônimo de boa gestão. A renovação do mandato não se condiciona apenas a isso.

Agora veja a falácia da afirmação do conseqüente dita pelos políticos.  Uma boa gestão não prescinde de correta aplicação dos recursos públicos. Eu apliquei corretamente os recursos públicos, logo, fiz uma boa gestão e mereço ser reeleito.

Existem ainda as famosas falácias sexuais:

Toda mulher gostosa é bonita.
Ela é bonita, logo, ela é uma mulher gostosa.

Toda mulher gostosa é magra.
Ela é magra, logo, ela é gostosa. (Quem gosta de osso é coveiro).

Todo(a) atleta tem um bom desempenho sexual.
Ele(a) tem um bom desempenho sexual, logo, ele(a) é atleta.

Toda mulher gostosa é nova.
Ela é nova, logo, ela é gostosa. (Aqui, não obstante a falácia, tem-se uma verdade absoluta, inquestionável).

Toda mulher gostosa é nova.
Ela é uma mulher velha, logo, ela não é gostosa.

Toda mulher recatada é fria na cama.
Ela é fria na cama, logo, ela é uma mulher recatada. (Existe mulher assanhada que é mais fria do que bucho de jia, e mulher recatada mais quente do vulcão).

Fui.

sábado, 23 de junho de 2012

Nome e Sobrenome


Recentemente, perguntei à Bia por que ela chamava os coleguinhas pelo nome e sobrenome. Respondeu-me que não chamava todos assim, só os que tinham primeiro nome repetido (é prática comum no colégio dela). Com efeito, numa listinha que ela fez de aniversário havia nomes com sobrenomes e somente primeiros nomes.

Mas percebi que não é só por isso. Nota-se uma entonação diferente quando se diz o nome e sobrenome. Palavra tem poder. No momento certo, vou dizer a ela que as pessoas não valem pelo nome que têm, mas sim pelas ações que praticam. No momento certo.

Na minha infância, nem o primeiro nome se sabia. Todos tinham apelido. Baninho, de Urbano; Biu, de Severino; Tonho, de Antônio; Zezé, de Maria José. Às vezes, sem nenhuma correlação com o nome: Xaxá (eu mesmo), Dadá, Neném, Dé etc. Outra vezes, derivava de alguma particularidade física: Cabeção, Ovão, Pezão etc.

E era assim. Tenho alguns amigos de infância que até hoje não sei o nome.

Mas essa coisa de nome é complicada. Carrego o meu até hoje. Já passei por algumas por conta dele.

Certa vez, efetuaram uma apreensão no aeroporto e o dono da mercadoria, inconformado, quis falar com o inspetor (eu mesmo) de todo jeito. Depois de um chá de cadeira proposital de uns 40 minutos, ao entrar no gabinete o sujeito saiu-se com essa: pensei que fosse um negão . . .

Nos tempos áureos de Jorge de Altinho, no “forró do Náutico”, eu com calça boca sino, cavalo de aço nos pés, azzaro no cangote, chamei uma “menina” pra dançar (naquele tempo se chamava pra dançar agarradinho). No primeiro toque até o pensamento ficava em rigidez cadavérica (A metáfora é boa porque é original).

E pra iniciar a conversa: Qual o teu nome? Marina. E o teu? Benedito. Deixa de brincadeira, diz o teu nome verdadeiro . . .

Tive uma sogra que era metida a chique. Só metida. Tinha umas amizades esquisitas. Dentre elas uma mulher que sofria de uma doença que se peida constantemente. Um passo, um peido, um passo, um peido (lembra até café com pão bolacha não, café com pão bolacha não, vou danado pra catende). Mas a peidona era metida a “merda” (desculpem o trocadilho).

Final de semana. Casa de praia lotada. Eu mais por fora do que pensamento de preso. Só pelas beiradas. Esquivando-me o mais que podia. Mas não teve jeito. No domingo pela manhã, na hora do café, tive que agüentar a xaropada.

Em determinado momento, a peidona, com aquele ar de superioridade, olhou pra mim e indagou: qual o seu nome, meu filho? Olhei pra um lado, pra o outro, esperei alguns segundos e respondi: Williams.

E assim foi que me transformei no príncipe de Gales.

sábado, 9 de junho de 2012

Treino 21,6 Km dia 09062012

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Benedito Nunes <benediton@gmail.com>
Data: 9 de junho de 2012 10:41
Assunto: Treino 21,6 Km dia 09062012
Para: post@posterous.com


Treino 21,6 km 09.06.2012

sábado, 2 de junho de 2012

quinta-feira, 31 de maio de 2012

I don't claim to be a angel - Kitty Wells

Trânsito

O trânsito do Recife tem-me causado sensações estranhas. Sinto que sou eu quem leva o automóvel, e não o contrário. 

 

Afligiu-me durante dois dias a expectativa de enfrentar a avenida Recife __ tive que ir a Jaboatão dos Guararapes.

 

O mal se confirmou: uma hora até a Procuradoria daquele município, antes do Shopping; uma hora até Casa Forte. E olha que saí às 12:30hs de casa.

 

Não dá mais. Estrangulou. Além do que as vias tornaram-se campo de batalha.

 

Cada vez mais firme no propósito de andar a pé.

terça-feira, 29 de maio de 2012

sábado, 26 de maio de 2012

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ir de ônibus.

Estava decidido, iria de ônibus pra o trabalho. Ultrapassei a Dezessete de agosto e prostrei-me à sombra de uma mangueira, à espera.

Dez minutos, quinze, e nem sinal do Dois Unidos – Rui Barbosa -- nem dele, tampouco de nenhum outro.

Avisto de longe o nome estampado: “EXPRESSO”. Logo abaixo, em letras menores, Dezessete de agosto, Parnamirin, Rua do Futuro . . . É esse! Dei com a mão, o motorista parou uns cem metros adiante, pelo que me fez dar um pique atrás do maldito.

A porta abriu-se. Percebi que o aperto era grande, maior, como se diz, do que “cu de sapo”. Nada que abalasse a minha determinação. Desceram alguns. Na subida, o motorista fechou a porta e “cuspiu”: “EXPRESSO”.

Que porra é essa!? Expresso pra mim é aquele café feito em máquina, forte pra caralho.

Voltei desmilinguido pra parada, sob os olhares desconfiados de algumas senhoras . . .

Passados trinta minutos, cedi, resignei-me, persignei-me e peguei um táxi. Antes do quartel, o trânsito parou, travou, danou-se. Uma hora e sete minutos para um percurso de cinco quilômetros.

Em compensação, voltei a pé.



segunda-feira, 30 de abril de 2012

Treino de 28 de abril de 2012.

Teste de Convivência.


O Agnaldo, colega da Receita, contava que um professor da UFPE, que não recordo o nome, beirando os 55 anos, contrariando impulso celibatário que o arrebatava desde tenra idade, resolveu casar.

À empreitada, formulou 50 perguntas a serem respondidas pelas pretendentes. Distribuído o formulário a duas irmãs, uma delas atendeu às expectativas do sequioso casamenteiro, pelo que subiram ao altar e foram felizes para sempre . . .

Sempre tive curiosidade em saber o teor das perguntas, malgrado cogitar a vicissitude de elas terem caráter pessoal, não se prestando, por conseguinte, à generalidade.

Se fosse formular uma lista, com certeza incluiria as seguintes perguntas:

- Ronca à noite?
- Toma algum remédio pra controle de ansiedade?
- Tem alguma doença crônica?
- Gosta de animais?
- Gosta de praticar esportes?
- Tem algum projeto pessoal?
- Gosta de sexo? Quanto?

Formularia também testes de múltipla escolha:

1 – Se você estacionar o carro na avenida Boa Viagem e o guardador lhe cobrar cinco reais por isso, o que você faz:
a) dá sem pestanejar;
b) dá apenas dois reais;
c) não dá nada ao filho da puta e questiona que a rua não lhe pertence.

2 – Se você vai à praia e o ambulante lhe oferece cadeiras, o que você faz:
a) aceita sem perguntar quanto custa;
b) aceita, mas antes pergunta quanto custa;
c) não aceita e se senta em cima de uma toalha, previamente escolhida para esse fim.

3- Se você vai a um restaurante e há uma fila enorme, o que você faz:
a) se submete à fila;
b) tenta furar a fila;
c) pega o carro e vai pra outro restaurante.

4- Se um carro dá um pequeno toque na sua traseira às 7:30 hs da manhã de uma segunda feira, na frente do Colégio São Luiz, na Rui Barbosa, o que você faz:
a) liga pra perícia;
b) esculhamba o motorista e vai embora;
c) vai embora sem esculhambar.

5. Se você está sozinha num elevador e, de forma repentina, dá uma vontade enorme de soltar um pum, o que você faz:
a) solta-o de forma espontânea;
b) solta-o de forma disfarçada;
c) se segura.

6. Se você pede um prato num restaurante e a comida não corresponde a sua expectativa, o que você faz:
a) reclama um pouco, mas come mesmo assim;
b) reclama, não come, e exige outro prato;
c) não reclama, manda todo mundo a puta que pariu e vai embora sem pagar porra nenhuma.

7. Se você recebe uma ligação por meio da qual lhe oferecem cartão de crédito da C&A, o que você faz:
a) atende gentilmente, mas não aceita;
b) atende gentilmente e aceita.
c) manda a promotora pra puta que pariu, se foder e tomar no cu.

8. Se você estiver numa fila e um espertalhão de dois metros de altura, malandramente, tomar a sua vez, o que você faz:
a) fica calada e aceita;
b) dá muxoxo, mas aceita;
c) faz o maior barraco e passa na frente do sujeito.

9. Se você participa de uma palestra a trabalho e tem um sono enorme após o almoço, o que você faz:
a) coloca óculos escuros e dorme descaradamente;
b) dá apenas uns cochilos;
c) vai embora.

10. Se você está fazendo amor com o companheiro sem tesão alguma, o que você faz:
a) fica calada e espera ele gozar;
b) dá uns gemidinhos e espera ele gozar;
c) dá gritos enormes e simula um orgasmo.

No momento, só me veio esses.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Treino de hoje:

Engarrafamento


Evito ao máximo engarrafamento. Detesto ficar parado dentro do carro sem ter o que fazer. Não é minha praia. É tanto assim, muita vez vou trabalhar a pé ou de moto. Mas o uso do automóvel, às vezes, é inevitável.

Levo Bia de carro pra escola. É perto, poderia ir a pé . . . mas não vou. Acho que gosto do vuco-vuco da entrega das crianças. A rua todavia é estreita, não comporta 4 carros. De maneira que se houver dois carros estacionados não dá pra passar mais dois no espaço entre eles. É fato. Já tive alguns entreveros por conta disso.

Tenho carteira de motorista há trinta e dois anos. Acho que à conta de minha altura, e da minha natureza (lembro de uma música de forró que dizia: “eu sou pequenininho ma gosto de tudo grande”), tive diversos carros grandes, como o Opala Diplomata, o Ford Ranger etc.

Teve um tempo que dirigi com certa freqüência por ruas bastante apertadas. As ruas do bairro de São José, por trás da antiga rodoviária do Recife. À conta disso, desenvolvi a habilidade de avaliar com certa precisão a possibilidade de se passar com um automóvel por determinado espaço.

Pois bem, hoje pela manhã formou-se a muvuca: carro estacionado de um lado, carro estacionado de outro e mais carros, pelo meio, tentando passar. A tática é a seguinte: vai-se com tudo pra ver a merda acontecer. E não deu outra: todo mundo parado esperando a boa vontade de um salvador da pátria que sempre pede a um ou outro para dar uma “rezinha” e tal.

Ressabiado por causa de episódios anteriores, fiquei na minha. Liguei a CBN e nem tô aí. Uma loira (até que gostosa) baixou o vidro do carro e sapecou : “Dá pra passar”. Retruquei na bucha: “só se eu contrariar a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo". Fechou-se (inclusive o vidro).

Esperei ela se afobar. Tava pronto pra contar a história do caminhoneiro. O sujeito tava tentando estacionar o caminhão sem conseguir. Um gaiato começou a inferná-lo: não vai conseguir, não vai conseguir . . . Até que se ouviu o estouro: “Estaciono esse carro atravessado no cu da tua mãe”.

E ponto final.

domingo, 1 de abril de 2012

Enfrentando o astro rei

Enfrentando o astro rei depois de três dias de disenteria.

sábado, 31 de março de 2012


O TESTE
Luis Fernando Veríssimo

Ele e ela atirados no sofá, cada um para um lado. Ela lendo uma revista, ele lendo um jornal. Ela se debruça por cima dele, procurando  alguma coisa na mesinha ao lado do sofá, depois enfiando a mão entre as pernas dele e o estofamento. Ele pensa que a intenção dela é outra e se entusiasma.

- Epa. Opa. É por isso que eu gosto dessas revistas femininas. São puro sexo . . . Cento e dezessete maneiras de atingir o orgasmo usando utensílios domésticos, inclusive o seu marido. Chuchu, esse afrodisíaco desconhecido. Você também pode ter os seios novos da Xuxa, quando ela não estiver usando . . . Vocês começam a ler essas revistas, se excitam e ...

- Encontrei.

- Claro que encontrou. Você pensou que ele tivesse se mudado? Continua no . . .

- O lápis. Eu sabia que ele estava dentro do sofá.

- Lápis?

- Pra fazer este teste da revista. Vamos lá. “Você chega em casa e diz que precisa fazer uma reavaliação das suas prioridades, recuperar o seu espaço pessoal e dar um tempo para o casamento, e declara que vai viajar sozinha. Ele a) dirá que tudo bem, desde que você faça um rancho no supermercado antes de ir, b) acusará você de ter um amante e exigirá saber quem é, c) dará uma risada e dirá “boa, boa, conta outra” ou d) dirá que entende você e apóia sua decisão.” “Você”, no caso, sou eu.

- E “ele” sou eu?

- “Ele” é você.

- D.

- O quê

- D. A resposta dele, que sou eu, é D.

- Você me entenderia e me apoiaria?

- Sem a menor dúvida.

Ela anota com o lápis, não muito convencida, e continua.

- “Ele tem um hábito que você não suporta, mas nunca mencionou. Um dia você resolve falar e pede que ele pare, senão você enlouquece. Ele a) dirá que você tem vários hábitos que também o deixam maluco e só para se você parar, b) dirá que devemos aceitar as pessoas como elas são, com todas as suas imperfeições, e que você está sendo insensível e intolerante, c) dirá que fará o possível para parar, pois a sua aprovação é a coisa que ele mais preza, ou d) negará que tenha o hábito e dirá que você só está atrás de um motivo para criticá-lo”.

- C.

- C?

- Ele disse C.

- Se eu pedisse para você abandonar um hábito que me incomodasse . . .

- Eu pararia na hora.

- Mesmo?

- Mesmo.

Ela anota e recomeça a leitura.

- “Você . . .”

- Espera um pouquinho. Esse teste não é pra mim. É pra você. É para a mulher responder o que espera do marido. Que tipo de homem ela pensa que ele é. No final, dependendo das respostas, a revista diz “Separa-se desse monstro imediatamente!” Ninguém quer saber as nossas respostas. Desprezam a nossa autoavaliação.

- Não é bem assim . . .

- É, sim. É por isso que eu não gosto de revistas femininas. Não têm o menor interesse em homem, a não ser como objeto sexual. São feitas por mulheres para mulheres. E o que é que mulher mais gosta de ler, ouvir e ver? Outras mulheres. Alguém já viu homem na capa de uma revista feminina? Nunca. É tudo narcisismo. Delas para elas. Até os testes.

Ela atira a revista e o lápis longe.

- Pronto. Acabou o teste.

Ela o abraça.

- Ficou bravinho, ficou?

Ela o beija. Ele se deixa beijar. Ela o beija com mais ardor. Ele enfia a mão entre as pernas  dela. Ela faz “Mmmmmm. É assim que eu gosto”. Ele diz:

- Encontrei.

- O quê?

- O controle remoto.

E liga a televisão.