domingo, 21 de julho de 2013

Maratona do Rio

O Rio de Janeiro continua lindo. Mas se transformou em canteiro de obras. Engarrafamentos quilométricos. Esse ano o número de corredores da maratona aumentou, e muito. Corri todo tempo com várias pessoas ao meu lado. Bom. Com efeito, a melhor maratona do Brasil. Não só pela beleza do percurso, mas também pela organização e sobretudo pelos participantes. Tinha gente de todo lugar; se não me engano, corredores de sessenta países distintos. Fato que me chamou atenção foram os grupinhos. Mulheres atarracadas, malhadas, bem vestidas, sobrepondo-se à beleza natural da cidade. Encanta-me em particular o sotaque carioca. A voz é melosa, macia, chamativa. Do Rio migrei pra Fortaleza. Fui levar Bia pra conhecer o Beach Park. Por mim, teria ficado em casa, lendo a “Mortalha de Alzira” e soltando pum. Não sei como as aeromoças (peniqueiras de luxo) aguentam: é uma coisa de passar por zona de turbulência; recolhe carrinho, aperta o cinto. Vá à puta que pariu quem acha normal. Deveria existir lei que obrigasse o comandante a dizer as condições do voo a cada cinco minutos. Ficaria mais tranqüilo. Fazer o quê? Depois de piscina de onda (decerto com centenas de litros de xixi) e ar condicionado, ganhei uma rinosinusite (rinite+sinusite). Mas mesmo assim andei no calçadão da beira-mar. As academias aportaram em Fortaleza. As lojas de suplementos também. O Cearense se supera em tudo (parece que escuto o sotaque). Muita mulher bonita e muitos turistas (não há confundir). A veia turística de lá é desobstruída; diferentemente do Recife, impregnada ainda pela petulância da descendência dos senhores de engenho. Mas o sotaque é coisa feia. É um “negócio” de macho pra lá, de macho pra cá. Só imagino na hora do orgasmo: “Te segura aí Macho que tô gozando”. Hoje corri 21 Km; durante a semana, 66 Km.

A Clausura

A clausura (da classe média) muita vez leva a pensar quem nasce em favela não tem sentimento. Seja bicho. Com particularidades inatas de perversidade. O que se reforça quando o filósofo popular do meio dia, vulgo Cardinot, noticia com alarde: “meliante” de quinze anos mata madame sem dó nem piedade. Sei não. Malgrado a favor da desvinculação da responsabilidade criminal da maioridade civil, penso de forma diversa. Concluo ante o que vem a mim. Certa feita, levei (eu e mais uns corações bons) turma inteirinha de escola da Ilha de Deus pra Aldeia. De sete a onze anos, mais ou menos. A dita ilha, pra quem não conhece, fica entre a Imbiribeira e o Pina. Agora não, mas no tempo da aventura ligava-se àquele primeiro bairro por ponte de madeira só para pedestres. Os moradores, essencialmente, pescadores, marisqueiros, prostitutas, desocupados e afins. Era perigoso por demais ultrapassar os limites do “continente”. Em Aldeia, farra: piscina, futebol, brincadeiras sem fim. A moda era “É o tchan” e suas coreografias. Todos no clima. Bullyng coisa de americano. Hora do lanche. Bolsinhas repletas de biscoitos, frutas, sanduíches etc. Tudo arrumadinho, numa demonstração inequívoca de muito carinho e preocupação dos pais. Hora do almoço. Círculo. Reza. Galinhada adrede preparada. Nenhum sobressalto. Nenhuma “brincadeira” arredia. Alguns desses meninos podem ter entrado no mundo do crime, quem sabe? No que diz respeito a sentimento, “tabula rasa”. . .

Batismo

Bia ainda não foi batizada. Por minha causa. Não sou lá muito chegado a “rituais”. Deixo ao seu alvedrio. Não gosto em específico de missa. Assegurar abrigo celeste em troca apenas de fé, cabe não na minha cabeça. Mas não é isso. É o discurso. Fala-se ainda em capeta. Porra nenhuma !? Capeta é o sujeito que vê o próximo sucumbido de fome e o deixa morrer. É o político cabra safado que só pensa em roubar . . . Mas há quem acredita. Há quem acredita a ida semanal à igreja livra a alma das trevas. Pode ser ela encontre abrigo debaixo de sete palmos. E Gustave Flaubert sapeca em Madame Bovary (na figura de monsieur Homais): Tenho uma religião; a minha religião. E tenho mais do que eles, com seus trejeitos e palhaçadas! Adoro a Deus, ao contrário deles! Creio num ser supremo, num Criador, que não sei quem é, que nos colocou aqui embaixo para cumprirmos com nosso dever de cidadãos e pais de família; mas não preciso de ir a uma igreja beijar bandejas de prata e engordar com meu dinheiro um grupo de farsantes que passam melhor do que nós! Pode-se honrar a Deus muito bem num bosque, numa campina ou mesmo contemplando a abóbada estrelada, como os antigos. O meu Deus é o Deus de Sócrates, de Franklin, de Voltaire e de Béranger! Sou pela “Profissão de fé do vigário de Savoia”, e pelos princípios imortais de 89! E também não admito uma criatura de Deus que caminha de cajado na mão, coloca seus amigos em ventre de Baleias, morre dando um grito e ressuscita ao fim de três dias, coisas em si mesmas absurdas e completamente opostas, além do mais, a todas as leis da Física. O que nos demonstra que os padres sempre se chafurdaram numa ignorância torpe na qual se esforçam por colocar também o povo.

Live Track

Assinei o “Live track’ da garmin por um mês (R$ 4,00). O programa permite o acompanhamento, em tempo real, do treino. Ou seja, a garmin disponibiliza um link de acompanhamento para pessoas previamente escolhidas (no meu caso, amigos do facebook). Excelente. Amanhã de manhã, a partir das 06:00 hs, o link estará disponível: correrei de casa até o marco zero, onde participarei da corrida das estações Adidas, num total, mais ou menos, de 20 Km. Hoje fiz teste no treino de bike. Enrolei-me com o celular, porquanto liguei ao mesmo tempo o “endomondo’, o “garmin fit”, o rádio e o “play”. Salada. Mas no final deu tudo certo. Novela é sair de casa com a “speed”. “Desentocá-la” da varanda, encher pneu, elevador, sacar pneu da frente, baixar bancos do carro, tirar trecos da mala e colocá-los na frente, ver os pontos de atrito . . . E os acessórios? Protetor solar, camisa proteção solar, short compressão, tênis sem cadarço (por conta do pedal em forma de concha), óculos, cinta cardíaca, gel . . . Tudo isso pra treino de uma (01) hora. Depois, toda “arrumação” da volta. O procedimento, no começo, me impacientava. Fui acostumando, acostumando, até que, hoje, acho divertido. Correr não, pois que pratico a atividade há muito tempo. Mas um dos motivos que me levaram a andar de ônibus, a pé e de bike foi ter levado multa da CTTU. Quatro anos atrás, aventurava-me numa motocicleta de 600 cilindradas. Moto pesada, motociclista baixinho, ‘cirque du soleil’. À conta disso mesmo (ipso facto), todo equipado: protetor de coluna, de cotovelo, de joelho, luva, capacete etc. Saindo da Padre Inglês (saudosa rua dos meus tempos de Radier) para pegar a Conde da Boa Vista, não ouvi nada. Um mês após, o presente: multa gravíssima, perda de 7 pontos na carteira e contingente suspensão do direito de dirigir. Porra, o que eu teria feito? Quem me teria multado? Perder o direito de dirigir, inclusive automóvel? O próprio Josef K de Kafka (O processo). A possibilidade de não poder dirigir por certo tempo me angustiou. Como levaria Bia pra escola? Como iria trabalhar? Como iria fazer feira? Pior. Como iria conciliar todas essas atividades? Passou-me contratar motorista. Camaleão metamorfoseia-se em cobra e adrede troca de pele. Comecei a andar de ônibus, a pé e de táxi. Acostumei. Isso é o que a maioria da população faz. A multa. Mas que a única prática a se enquadrar na capitulação seria andar com a viseira levantada. Recorri à CTTU. Perdi. Recorri à Jarí (Detran). Perdi. Recorri ao Cetran. Ganhei.

A Avenida Norte Mudou

A avenida norte mudou. Para acessar a Cônego Barata, é necessário pegar à direita depois da Estrada Velha de água Fria, e contornar pela Rua Boa Vontade. Algumas vezes, tenho feito o trajeto, que não me é estranho de há muito. Lembranças da Rua Boa Vontade. Reluto, pois que com efeito o que vale é o aqui e agora. Mas que muita vez me acomete essa “coisa” de retrospectiva (com Émile Durkheim, em “As Regras do Método Sociológico”: Coisa é todo objeto de conhecimento que não é naturalmente apreendido pela inteligência, tudo aquilo de que não podemos adquirir uma noção adequada por um simples processo de análise mental, tudo que o espírito só consegue compreender na condição de sair de si próprio, por via de observações e de experimentações, passando progressivamente das características mais exteriores e mais imediatamente acessíveis às menos visíveis e às mais profundas). Vem do nada. Ou de uma foto. De uma simples lembrança, como na obra de Marcel Proust. Acho que acontece isso com todo mundo que já passou de certa idade. Não digo a obra monumental do autor, mas que, no mundo normal, dos simples mortais, dá pra fazer boa avaliação. Importa a quantidade e qualidade dos eventos rememorados. Numa escala de zero a cinco. Sexo em lugares inusitados. Cinco.

Nos Braços de Erebus

Dormir nos braços de Erebus. A Babá de Bia, que tem 23 anos e ganha salário mínimo, fez plano numa funerária. Porra, pra que você quer um plano desses? Indaguei. Ela me respondeu que não quer problemas no seu enterro. Fiquei admirado. Mas não é que em parte ela tem razão; caixão, deslocamento, taxas, flores etc., tudo é caro. Não tenho essa preocupação. Prefiro comprem caixão dos mais vagabundos e me enterrem no cemitério mais próximo. E tenho lá vontade de florear nada pra tapuru! Melhor seria virar pó (cremação) e adubar pé de “comigo ninguém pode”, o que não é barato todavia. Falar em barato, lembrei-me do caso da rã. Meu falecido pai, por brincadeira (apenas de sua parte), encomendou a iguaria a um brejeiro. Na hora da entrega do batráquio entretanto assustou-se com o preço, pelo que o sujeito retrucou: como jia quem pode!? E o brother me alertou que daqui a dez anos serei um velho. Não respostei, mas pensei: velhice é estado de espírito. E eu quero lá saber o que vai acontecer (comigo) daqui a dez anos? Só sei que agora estou a todo vapor. Enquanto estiver assim, está bom. Mas sigo fielmente Schopenhauer: “É mais feliz aquele que consegue viver sem grandes sofrimentos do que o outro que vive cercado de alegrias e prazeres. (...) O tolo vive perseguindo a alegria da vida e acaba ludibriado, enquanto o sábio procura evitar o mal”. E encontrei amigo que não via de há muito. Um ano mais velho do que eu. Morador de Boa Viagem. Confidenciou-me, toma 10 tipos diferentes de remédios por dia, carrega no peito dois “stents” e dorme com a ajuda de aparelho pra combater apnéia obstrutiva do sono. Com essa minha mania de médico, aconselhei-o a andar na avenida, no que ele me respondeu: Mas eu moro a três quadras da Avenida! Mas o assunto da vez são as manifestações públicas de repúdio ao poder constituído. O pessoal tá com a gota indo pra rua. Alguns vão pra namorar, outros pra roubar, incendiar e tumultuar, e outros com efeito pra protestar. Não me vejo em condições de opinar, mas percebi na fala da presidente certa arrogância; e acho que ela deu golpe baixo (aproveitando o momento) ao anunciar a contratação de médicos cubanos. Sacanagem. O caminho não é por aí. Seu eu fosse pra rua, ia protestar contra essa coisa de “carreira política”. Carreira política um cacete. Vão trabalhar seus filhos da puta! Acabar com essa coisa de o sujeito passar a vida se reelegendo. Não suporto ver Inocêncio Oliveira gaguejando na televisão.

O sapato no pedal

O sapato no Pedal. Impacienta-me certos tíquetes nervosos. Bater com caneta em mesa, balançar pernas, piscar olhos em demasia etc. Saio logo de perto, quando possível. Conheci um sujeito que balançava a cabeça constantemente (dava uns “supapos”). Era muito esquisito. A última vez que o vi tava curado. Perguntei-lhe se tinha consultado neurologista, se submetido a tratamento específico e coisa e tal. Ele me respondeu que começou a fumar maconha; um cigarro pela manhã, outro à tarde e mais um à noite, antes de deitar (posologia). Fica a dica. Com efeito não suporto coisas repetitivas. Aqui, saio do particular e vou pra o geral. Feijão com arroz todos os dias, não obstante a combinação ser muito nutritiva, é dose pra elefante. Imagine sexo durante trinta anos com a mesma pessoa. Há quem diga o importante é se reinventar. Só se houver lavagem cerebral. . .no mínimo. Mas volto aos tíquetes. Era “mão-de-obra” levar a bike pra UFPE. Desmontar, colocar e tirar do carro, centralizar a roda, ajustar os freios etc. A cada pedalada, um barulhinho: “Quit”. Várias pedaladas: “quit, quit, quit . . .”. Eita coisinha pra me incomodar. Decerto o ranger viria da fricção do freio no aro da roda. E, de fato, quando descia da bike, ajustava o freio e voltava a pedalar o ruído sumia. Porém depois de pouco tempo voltava. Fui deixando prá lá. Convicção plena, inelutável, da origem do incômodo. Só algum tempo depois descobri que ele derivava da fricção do tênis no pedal, nada tendo a ver com o freio. Nas relações humanas muita vez acontece a mesma coisa . . .