domingo, 21 de julho de 2013

A Clausura

A clausura (da classe média) muita vez leva a pensar quem nasce em favela não tem sentimento. Seja bicho. Com particularidades inatas de perversidade. O que se reforça quando o filósofo popular do meio dia, vulgo Cardinot, noticia com alarde: “meliante” de quinze anos mata madame sem dó nem piedade. Sei não. Malgrado a favor da desvinculação da responsabilidade criminal da maioridade civil, penso de forma diversa. Concluo ante o que vem a mim. Certa feita, levei (eu e mais uns corações bons) turma inteirinha de escola da Ilha de Deus pra Aldeia. De sete a onze anos, mais ou menos. A dita ilha, pra quem não conhece, fica entre a Imbiribeira e o Pina. Agora não, mas no tempo da aventura ligava-se àquele primeiro bairro por ponte de madeira só para pedestres. Os moradores, essencialmente, pescadores, marisqueiros, prostitutas, desocupados e afins. Era perigoso por demais ultrapassar os limites do “continente”. Em Aldeia, farra: piscina, futebol, brincadeiras sem fim. A moda era “É o tchan” e suas coreografias. Todos no clima. Bullyng coisa de americano. Hora do lanche. Bolsinhas repletas de biscoitos, frutas, sanduíches etc. Tudo arrumadinho, numa demonstração inequívoca de muito carinho e preocupação dos pais. Hora do almoço. Círculo. Reza. Galinhada adrede preparada. Nenhum sobressalto. Nenhuma “brincadeira” arredia. Alguns desses meninos podem ter entrado no mundo do crime, quem sabe? No que diz respeito a sentimento, “tabula rasa”. . .

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