quarta-feira, 22 de agosto de 2012

sábado, 18 de agosto de 2012

Perdidos no espaço.


Ao ver foto do seriado “Perdidos no Espaço”, passou um filme na minha cabeça. Lembrei da Telefunken que ocupava a sala de visitas da minha casa em Vicência. Um dos poucos televisores da cidade. Toda noite, a janela ficava pequena para tantos telespectadores.

Na linha, lembrei da escola onde fiz o primário: Juvenato Padre Guedes, ao lado da Igreja de Santa Ana, padroeira da cidade. Aos seis anos,  já empunhava o Almanaque Fontoura com a história de Jeca Tatu. Doido pra começar a estudar. Não conseguia fazer matrícula, era muito novo. Naquele tempo, iniciava-se os estudos só aos sete.

Estefânia Carneiro da Cunha, a diretora, dizia a minha mãe: deixa ele ficar Irene, fica aqui comigo na Secretaria . . .Tive o privilégio de conhecer  tão digna senhora, que hoje empresta o nome a uma das principais avenidas da cidade.  Irmã de Otaciano Carneiro da Cunha, padrinho do meu pai.

E as brincadeiras eram tomar banho de rio, fazer cabana, esconder-se, jogar pião, lançar  ferro na praça quando o barro estava mole etc . Na rua, solto feito bode. Lá vai o filho de seu Benedito, de seu Carlos Sena e de seu Hemetério, de seu Aurinho . . . era a turma.

Vez ou outra, uma cabeça lascada. Um sujeito que morava no beco da Biblioteca era desprovido de  pestana, motivo por que tinha a alcunha de “sem pestana”. Paciente, mas nem tanto.  E a toada quando se passava no beco era essa: sem pestana, sem pestana, sem pestana . . . E a resposta eram as pedradas . . . Era uma correria medonha.

Por puro lance de sorte, conseguiu o sem pêlo acima dos olhos atingir a cabeça do meu irmão mais novo. Foi um chororô. Papai ficou indignado. Mandou chamá-lo. E você pode jogar pedra na cabeça dos meninos seu Sem Pestana? Que bobagem é essa? Por acaso você tem pestana? Malgrado o talho, ficou por isso mesmo . . .

Comia-se bem. Mas se comia o que havia pra comer. Não tinha essa historinha de predileção por comida. Aniversário, coisa rara. Coxinha, docinho, salgadinho etc. nada disso fazia parte do cardápio. Dentista? Só fui quando tive dor de dente, aos sete ou oito anos. Lembro ainda da assustadora broca movida a pedal.

Telefone, só nos filmes. Por incrível que pareça, a engenhoca só aportou na cidade no começo dos anos 1990. Mas todos sabiam da vida de todo mundo. Até os detalhes mais  íntimos . . .

Estou com cinquenta e dois. Bia tem seis e meio.

Já lê, arranha a escrita, e entende de internet, arquivo, pen drive, mouse etc. Tem celular. Ficou impressionada com um telefone analógico que descobriu no banheiro de um Hotel. Papai, pra que servem esses furinhos?

Galinhazinha de granja, o seu espaço é o do prédio. Rua só acompanhada . . .

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Israel!


Israel. Esse era o nome dele.

Nos idos de 1994, encantei-me por uma casinha de boneca em Enseada dos Corais. Por puro lance de sorte, e de muito insistir com a colega Bruna, consegui comprá-la.
Gostava muito da praia, principalmente da ponta do Xaréu.

Herdei o caseiro. Sujeito baixinho, cara de fuim, zambeta e com problemas nas glândulas sudoríparas; só suava por um dos sovacos.

Pense num sujeito metido! Era o resolve tudo a todo momento. Faltou energia, chama Israel; a telha quebrou, chama Israel; a porta emperrou, chama Israel . . . E ele se gabava: só não faço chover.

Vez ou outra, o via jogando futebol. Brabo. Todos do time tinham medo dele.

Era casado com uma mulher bem mais jovem. E até bonita. Deus no céu e Israel na terra.

Certo dia, a bomba quebrou. Israel tinha ido resolver um problema em Gaibu.  Fui no Cabo de Santo Agostinho e comprei uma nova, pelo que o dono do armazém mandou um funcionário fazer a instalação.

Apesar de inúmeras tentativas, a nova bomba não funcionava de forma adequada. A mulher de Israel à espreita. Dava muxoxo. Ia pra frente, ia pra trás. Impacientava-se. Determinada hora, ela olhou pra o instalador e disparou: deixa isso aí, quando Israel chegar ele ajeita . . .

Por uma estranha associação, lembrei-me dos versos de Elizabeth Browning:

AMA-ME POR AMOR DO AMOR SOMENTE.

"Ama-me por amor do amor somente.
Não digas: “Amo-a pelo seu olhar,
o seu sorriso, o modo de falar
honesto e brando. Amo-a porque se sente
minh’alma em comunhão constantemente
com a sua”. Por que pode mudar
isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
do tempo, ou para ti unicamente.
Nem me ames pelo pranto que a bondade
de tuas mãos enxuga, pois se em mim
secar, por teu conforto, esta vontade
de chorar, teu amor pode ter fim!
Ama-me por amor do amor, e assim
me hás de querer por toda a eternidade."

Andar de ônibus!


Cinco e meio quilômetros. É essa a distância de casa pra o trabalho.

O motivo por que me mudei pras bandas de Casa Amarela foi a proximidade da Cidade Universitária e da Agamenon Magalhães. No final da década de 1990, o trânsito era bom nos dois sentidos. A Estrada do Encanamento fazia por merecer o nome. Aparência de interior.

Falta de planejamento, licenças inescrupulosas para construção de edifícios, aumento do poder aquisitivo, e conseqüente aumento de carros circulando etc. resultou no que resultou.

E eu de expectador, inerme. Ma non troppo. Introjetei a mim mesmo na busca de solução. Fui beber em fonte de águas revoltas, de há muito esquecida.

Voltei à motocicleta. Motoqueiro antigo, com algumas quedas no currículo. O astro rei, aliado à imprudência e à imperícia dos motoristas, me fez desistir.

Aderi ao caminhar. Persistia o problema solar pela manhã. Camaleão tentou adaptar-se: protetores, roupas especiais, sombra etc. Nada que impedisse o suor e seus incômodos todavia. Tomar banho no trabalho foi a solução.

Mas como Raul, prefiro metamorfosear, destruir opiniões formadas sobre tudo. Assim foi que, como Angélica (no sentido da música), decidi ir de táxi e voltar andando.

Ainda não satisfeito, aventurei-me nos coletivos. Não tive sucesso com os da 17 de agosto. Sorte diversa tive com o que sai do Córrego da Areia. O nome pode ser esquisito, mas o trajeto não podia ser melhor. Pego-o a 200 metros de casa, deixo-o a 50 metros do trabalho.

Não sei por que boa parcela da população tem aversão a ônibus. Sinceramente, arrependo-me de não os ter “descoberto” há mais tempo. Poderiam ser melhores, reconheço, mas nada que justifique a opção pelo automóvel nesse trânsito infernal . . .

E ainda tem o inusitado das coisas. Dia desses, casal de evangélicos entoaram hino ao longo do percurso. O homem esboçava reação inequívoca de sua convicção por aquilo que cantava.

Queria ser assim. Mas as dúvidas não me largam . . . 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Animais de Estimação.


Um bichinho da família chelidae, grupo dos quelônios, ordem testudinata, conhecido como cágado, veio engrossar a lista composta por dois guaiamuns __ que completaram um ano na varanda __ dois peixinhos, três gatos e duas vira-latas, que perfazem a coleção de animais de estimação de Bia.

Estou a pensar que, com esses aumentos inesperados, daqui a um tempo terei efetivo zoológico __ bem esquisito, diga-se de passagem. Mas não é fácil cuidar dos bichos. Cada um com suas particularidades.

Foi grande surpresa descobrir que o guaiamum vive por muito tempo (em torno de quatro anos) e que tem algo mais na cachola, além de bosta. Sempre o vi como “patas”, e só “patas” com cerveja.

Pois não é que os meus gecarcinídeos demonstram comportamento adaptativo ao ambiente humano: de dia ficam embaixo de uma caixa de papelão; à noite, passeiam, tomam banho, defecam na água e se sentem os maiorais. Um deles, o maior, já deixa que o peguem . . .

O carapaçudo é mais difícil de criar, pois é mais suscetível a doenças, principalmente a fungos. Sua alimentação tem que ser balanceada, sob pena de amolecimento do casco etc. Descobri que ele hiberna.

A adaptação com os caranga se deu em dois dias. Cogitei a possibilidade de as patolas degolarem o pescoço de cobra do chelidae, o que efetivamente não aconteceu. Dormem todos juntinhos . . .

Os peixinhos (dois), há mais de um ano no aquário, quase saem da água na hora da ração, e já se deixam pegar, com certa facilidade, quando da troca da água.

Mas deixo de lado esses animais de “difícil” interação e passo àqueles que, parece-me, são os melhores amigos do homem.  

Aprendi a gostar de cachorros. Comecei a criá-los na década de 1990. Chequei a ter oito adultos. Todos da raça Boxer, com exceção de uma vira, que conto a estória logo mais. Gostava daquela cara feia a contrastar com a doçura peculiar da raça.

Os nomes tentavam refletir a personalidade: Lion, de rei leão; Xuxa, a albina; Madona, a marrom (a mais safada), e Davanira (davanira é ela, tira a sua roupa da janela!), a vira, que com efeito merecia um nome mais imponente, à altura de sua inteligência.

Assim como gente, cachorro tem personalidade. Lion, Xuxa e Madona eram irmãos. Foram comprados ainda mamando. Logo nos primeiros meses se via a enorme diferença de comportamento: Xuxa mais arredia; Madona mais manhosa, mais carente; Lion, o senhor do pedaço, amigão de todas as horas, impreterivelmente.

A Davanira foi encontrada na rua. Vira-lata vagabunda, sempre foi escanteada pelos de raça; mas nunca pelo seu dono. Divertia-me com as palhaçadas dela. Chupava chupeta e assistia televisão. Lembro de sua primeira gravidez. Eu fiz o parto, porque ela ficou desnorteada. Em nenhum momento teve receio ou me estranhou. 

Pois bem. À conta de os Boxers não gostarem dela e de eu não morar em Aldeia, ela se apegou ao caseiro, e com efeito passou a fazer parte de sua família. Quando este se aposentou, dei Davanira pra ele, a contragosto entretanto.

Passou-se um ano. Perdi Lion pra uma neoplasia. Xuxa, não sei como, caiu na piscina e morreu afogada. Madona teve problemas no parto e ficou meio adoentada. Soube que o caseiro tinha morrido e que Davanira tava couro e osso. Mandei buscá-la. Paguei R$100,00 reais a um sujeito pra encontrá-la e levá-la na Chácara.

A sua chegada foi medonha. Nem mais andar direito ela andava. O pelo tinha caído em virtude de uma sarna. Apesar disso, quando me viu deitou-se e rolou, como fazia quando era novinha, e urinou-se. Aquilo me partiu o coração . . .

Fiz o seu tratamento. Em pouco tempo, tava boa de novo. Morreu velhinha . . .

Senti muito a perda dos boxers. Principalmente dos primeiros. Mas a vida é assim. Nada é pra sempre . . .

Hoje, a pretinha e pirilampa (nome dado pelo caseiro). Esta última foi sobra de Milton, comparsa nas corridas, que se mudou de uma casa para um apartamento . . . Pretinha não; fui adrede buscá-la na “Brasilit”.

Mas não estou tão apegado. Acho que é mecanismo de defesa à dor da perda.

Os gatos. AH! Os gatos são outra história. Peguei-os em frente à chácara. Deixaram de propósito. Num primeiro momento, pensei tratar-se de três gatas. Só se descobriu que eram dois gatos e uma gata quando os mandei ao veterinário . . . De modo que os nomes femininos ficaram meio esquisitos . . .Mas nem tanto, pois os machos foram capados. Fazer o quê? Ou era isso ou era perdê-los pra uma “gata”.

E falando em gata, a adequação do nome do bicho para a mulher não se funda apenas no componente visual. Tem que haver manha, malícia, mistério. Pois assim é a gata bicho. Diferentemente da cadela que, incondicionalmente, vulgarmente, rasteiramente, revela o seu apego __ ipso facto uma cadela __  a gata espera que a procurem, faz charme, levanta o rabo, roça-se sorrateiramente em sua perna . . . E nem pense em aprisioná-la . . .