domingo, 30 de abril de 2017
O Exame
O médico me falou que o único laboratório que faz exame de fezes bem feito no Recife é o Roberto Florêncio. Fica bem pertinho da Igreja de Dom Helder, na Henrique Dias. Liguei pra lá e a atendente me alertou que o “material” teria de ter menos de duas horas de existência fora do corpo. De maneira que tive de ser diligente para conseguir a façanha por três dias consecutivos.
No primeiro dia, resolvi ir a pé. Quase que não consigo, porquanto despendi uma hora e quinze minutos no trajeto. No segundo dia, fui de ônibus. Peguei um sítio dos pintos – Imip. Com o recipiente devidamente fechado e embolsado, sentei-me faceiro no calor peculiar aos coletivos. Na Rui Barbosa, o inevitável: engarrafamento infernal. Pedi parada, desci e engendrei caminhada. Por pouco, mais uma vez.
No terceiro dia, porquanto um sábado, resolvi ir de carro. Malgrado alguns alagamentos, decorrentes da chuva que assolou a cidade durante a noite, cheguei dentro do prazo. O interessante do laboratório é que o bioquímico faz o exame logo após a entrega do material.
Todo esforço valeu a pena.
Quando morei na cidade universitária, tive como vizinho um sujeito muito divertido, que inclusive foi meu professor na faculdade de engenharia; se não me engano, de engenharia econômica. Passávamos, às vezes, a tarde inteirinha do sábado tomando cerveja e contando lorotas. Certa feita, ele me confidenciou que perdeu namorada por conta de um peido. Depois de sérias juras de amor e de muito carinho na varanda da casa da donzela, o suspiro marginal ecoou de súbito, motivo por que o “Romeu” foi peremptoriamente acoimado de safado, sem vergonha e cagão.
Cogitei o fato poderia ter sido pior, acaso a sonoridade viesse acompanhada de resíduos líquidos ou sólidos. Ele compreendeu a gravidade da situação e não mais quis falar sobre o assunto.
Essa nossa cidade do Recife é muito desigual. Quando se cruza a José dos Anjos e, logo após, a Avenida Norte, para desembocar-se na Padre Roma, a sensação é de que se está em outro mundo, tamanha a diferença. Não sei como se pode viver assim. Não funciona.
E os ônibus? Sacanagem das grossas. É muito sufoco para quem se utiliza do transporte para ir e vir do trabalho. Semana passada, à conta de uma autorização do plano de saúde, tive de ir ao centro. Dado que almocei no Vegetariano, plantei-me na parada de ônibus bem em frente à Neoenergia, antiga Celpe, e peguei um chão de estrelas.
Quando subi no coletivo, passou-me pela mente o fato de o CEO da referida empresa no Brasil ter sido minha contemporânea na faculdade de engenharia. Mas mesmo assim sentei-me perto de uma senhora de pernas grossas e cabelo no nariz. Sacou um celular e mandou milhares de beijos e outras coisas mais; para o companheiro, decerto.
Satã joga as brasas das 12 às 15 horas. Não há cristão ou mulçumano que aguente. O mínimo que deveria ser feito, para amenizar o incômodo, seria a colocação de condicionadores de ar. O mínimo. E não se diga que não há condições de fazê-lo. Claro que há! A maioria dos ônibus do Rio de Janeiro tem ar condicionado.
Voltei num casa amarela – nova torre para saber do trajeto. O inferno instalou-se de mala e cuia. E olhe que nem era horário de pico.
Dá-me vontade às vezes de voltar a andar de carro. Mas quando penso na Rui Barbosa, desisto.
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