Recentemente, perguntei à Bia por que ela
chamava os coleguinhas pelo nome e sobrenome. Respondeu-me que não chamava
todos assim, só os que tinham primeiro nome repetido (é prática comum no colégio
dela). Com efeito, numa listinha que ela fez de aniversário havia nomes com
sobrenomes e somente primeiros nomes.
Mas percebi que não é só por isso. Nota-se uma
entonação diferente quando se diz o nome e sobrenome. Palavra tem poder. No
momento certo, vou dizer a ela que as pessoas não valem pelo nome que têm, mas
sim pelas ações que praticam. No momento certo.
Na minha infância, nem o primeiro nome se sabia.
Todos tinham apelido. Baninho, de Urbano; Biu, de Severino; Tonho, de Antônio;
Zezé, de Maria José. Às vezes, sem nenhuma correlação com o nome: Xaxá (eu
mesmo), Dadá, Neném, Dé etc. Outra vezes, derivava de alguma particularidade
física: Cabeção, Ovão, Pezão etc.
E era assim. Tenho alguns amigos de infância
que até hoje não sei o nome.
Mas essa coisa de nome é complicada. Carrego o
meu até hoje. Já passei por algumas por conta dele.
Certa vez, efetuaram uma apreensão no
aeroporto e o dono da mercadoria, inconformado, quis falar com o inspetor (eu
mesmo) de todo jeito. Depois de um chá de cadeira proposital de uns 40 minutos,
ao entrar no gabinete o sujeito saiu-se com essa: pensei que fosse um negão . . .
Nos tempos áureos de Jorge de Altinho, no “forró
do Náutico”, eu com calça boca sino, cavalo de aço nos pés, azzaro no cangote,
chamei uma “menina” pra dançar (naquele tempo se chamava pra dançar
agarradinho). No primeiro toque até o pensamento ficava em rigidez cadavérica
(A metáfora é boa porque é original).
E pra iniciar a conversa: Qual o teu nome? Marina.
E o teu? Benedito. Deixa de brincadeira, diz o teu nome verdadeiro . . .
Tive uma sogra que era metida a chique. Só metida. Tinha umas
amizades esquisitas. Dentre elas uma mulher que sofria de uma doença que se
peida constantemente. Um passo, um peido, um passo, um peido (lembra até café
com pão bolacha não, café com pão bolacha não, vou danado pra catende). Mas a
peidona era metida a “merda” (desculpem o trocadilho).
Final de semana. Casa de praia lotada. Eu mais
por fora do que pensamento de preso. Só pelas beiradas. Esquivando-me o mais
que podia. Mas não teve jeito. No domingo pela manhã, na hora do café, tive que agüentar
a xaropada.
Em determinado momento, a peidona, com aquele
ar de superioridade, olhou pra mim e indagou: qual o seu nome, meu filho? Olhei
pra um lado, pra o outro, esperei alguns segundos e respondi: Williams.
E assim foi que me transformei no príncipe de
Gales.
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