Um bichinho da família chelidae, grupo dos
quelônios, ordem testudinata, conhecido como cágado, veio engrossar a lista composta por dois
guaiamuns __ que completaram um ano na varanda __ dois
peixinhos, três gatos e duas vira-latas, que perfazem a coleção de animais de
estimação de Bia.
Estou a pensar que, com esses aumentos
inesperados, daqui a um tempo terei efetivo zoológico __ bem
esquisito, diga-se de passagem. Mas não é fácil cuidar dos bichos. Cada um com
suas particularidades.
Foi grande surpresa descobrir que o guaiamum
vive por muito tempo (em torno de quatro anos) e que tem algo mais na cachola, além de bosta. Sempre o vi como “patas”, e só “patas” com cerveja.
Pois não é que os meus gecarcinídeos demonstram comportamento
adaptativo ao ambiente humano: de dia ficam embaixo de uma caixa de papelão; à
noite, passeiam, tomam banho, defecam na água e se sentem os maiorais. Um
deles, o maior, já deixa que o peguem . . .
O carapaçudo é mais difícil de criar, pois é mais suscetível
a doenças, principalmente a fungos. Sua alimentação tem que ser balanceada, sob
pena de amolecimento do casco etc. Descobri que ele hiberna.
A adaptação com os caranga se deu em dois dias. Cogitei a
possibilidade de as patolas degolarem o pescoço de cobra do chelidae, o que
efetivamente não aconteceu. Dormem todos juntinhos . . .
Os peixinhos (dois), há mais de um ano no
aquário, quase saem da água na hora da ração, e já se deixam pegar, com certa facilidade,
quando da troca da água.
Mas deixo de lado esses animais de “difícil”
interação e passo àqueles que, parece-me, são os melhores amigos do homem.
Aprendi a gostar de cachorros. Comecei a criá-los
na década de 1990. Chequei a ter oito adultos. Todos da raça Boxer, com exceção
de uma vira, que conto a estória logo mais. Gostava daquela cara feia a
contrastar com a doçura peculiar da raça.
Os nomes tentavam refletir a personalidade:
Lion, de rei leão; Xuxa, a albina; Madona, a marrom (a mais safada), e Davanira
(davanira é ela, tira a sua roupa da janela!), a vira, que com efeito merecia
um nome mais imponente, à altura de sua inteligência.
Assim como gente, cachorro tem personalidade.
Lion, Xuxa e Madona eram irmãos. Foram comprados ainda mamando. Logo nos
primeiros meses se via a enorme diferença de comportamento: Xuxa mais arredia; Madona
mais manhosa, mais carente; Lion, o senhor do pedaço, amigão de todas as horas,
impreterivelmente.
A Davanira foi encontrada na rua. Vira-lata
vagabunda, sempre foi escanteada pelos de raça; mas nunca pelo seu dono.
Divertia-me com as palhaçadas dela. Chupava chupeta e assistia televisão.
Lembro de sua primeira gravidez. Eu fiz o parto, porque ela ficou desnorteada. Em
nenhum momento teve receio ou me estranhou.
Pois bem. À conta de os Boxers não gostarem
dela e de eu não morar em Aldeia, ela se apegou ao caseiro, e com efeito passou
a fazer parte de sua família. Quando este se aposentou, dei Davanira pra ele, a
contragosto entretanto.
Passou-se um ano. Perdi Lion pra uma neoplasia.
Xuxa, não sei como, caiu na piscina e morreu afogada. Madona teve problemas no
parto e ficou meio adoentada. Soube que o caseiro tinha morrido e que Davanira
tava couro e osso. Mandei buscá-la. Paguei R$100,00 reais a um sujeito pra
encontrá-la e levá-la na Chácara.
A sua chegada foi medonha. Nem mais andar
direito ela andava. O pelo tinha caído em virtude de uma sarna. Apesar disso,
quando me viu deitou-se e rolou, como fazia quando era novinha, e urinou-se.
Aquilo me partiu o coração . . .
Fiz o seu tratamento. Em pouco tempo, tava boa
de novo. Morreu velhinha . . .
Senti muito a perda dos boxers. Principalmente
dos primeiros. Mas a vida é assim. Nada é pra sempre . . .
Hoje, a pretinha e pirilampa (nome dado pelo
caseiro). Esta última foi sobra de Milton, comparsa nas corridas, que se mudou
de uma casa para um apartamento . . . Pretinha não; fui adrede buscá-la na
“Brasilit”.
Mas não estou tão apegado. Acho que é
mecanismo de defesa à dor da perda.
Os gatos. AH! Os gatos são outra história. Peguei-os
em frente à chácara. Deixaram de propósito. Num primeiro momento, pensei
tratar-se de três gatas. Só se descobriu que eram dois gatos e uma gata quando
os mandei ao veterinário . . . De modo que os nomes femininos ficaram meio esquisitos
. . .Mas nem tanto, pois os machos foram capados. Fazer o quê? Ou era isso ou
era perdê-los pra uma “gata”.
E falando em gata, a adequação do nome do
bicho para a mulher não se funda apenas no componente visual. Tem que haver
manha, malícia, mistério. Pois assim é a gata bicho. Diferentemente da cadela
que, incondicionalmente, vulgarmente, rasteiramente, revela o
seu apego __ ipso facto
uma cadela __ a gata espera
que a procurem, faz charme, levanta o rabo, roça-se sorrateiramente em sua
perna . . . E nem pense em aprisioná-la . . .
Nenhum comentário:
Postar um comentário