sábado, 18 de agosto de 2012

Perdidos no espaço.


Ao ver foto do seriado “Perdidos no Espaço”, passou um filme na minha cabeça. Lembrei da Telefunken que ocupava a sala de visitas da minha casa em Vicência. Um dos poucos televisores da cidade. Toda noite, a janela ficava pequena para tantos telespectadores.

Na linha, lembrei da escola onde fiz o primário: Juvenato Padre Guedes, ao lado da Igreja de Santa Ana, padroeira da cidade. Aos seis anos,  já empunhava o Almanaque Fontoura com a história de Jeca Tatu. Doido pra começar a estudar. Não conseguia fazer matrícula, era muito novo. Naquele tempo, iniciava-se os estudos só aos sete.

Estefânia Carneiro da Cunha, a diretora, dizia a minha mãe: deixa ele ficar Irene, fica aqui comigo na Secretaria . . .Tive o privilégio de conhecer  tão digna senhora, que hoje empresta o nome a uma das principais avenidas da cidade.  Irmã de Otaciano Carneiro da Cunha, padrinho do meu pai.

E as brincadeiras eram tomar banho de rio, fazer cabana, esconder-se, jogar pião, lançar  ferro na praça quando o barro estava mole etc . Na rua, solto feito bode. Lá vai o filho de seu Benedito, de seu Carlos Sena e de seu Hemetério, de seu Aurinho . . . era a turma.

Vez ou outra, uma cabeça lascada. Um sujeito que morava no beco da Biblioteca era desprovido de  pestana, motivo por que tinha a alcunha de “sem pestana”. Paciente, mas nem tanto.  E a toada quando se passava no beco era essa: sem pestana, sem pestana, sem pestana . . . E a resposta eram as pedradas . . . Era uma correria medonha.

Por puro lance de sorte, conseguiu o sem pêlo acima dos olhos atingir a cabeça do meu irmão mais novo. Foi um chororô. Papai ficou indignado. Mandou chamá-lo. E você pode jogar pedra na cabeça dos meninos seu Sem Pestana? Que bobagem é essa? Por acaso você tem pestana? Malgrado o talho, ficou por isso mesmo . . .

Comia-se bem. Mas se comia o que havia pra comer. Não tinha essa historinha de predileção por comida. Aniversário, coisa rara. Coxinha, docinho, salgadinho etc. nada disso fazia parte do cardápio. Dentista? Só fui quando tive dor de dente, aos sete ou oito anos. Lembro ainda da assustadora broca movida a pedal.

Telefone, só nos filmes. Por incrível que pareça, a engenhoca só aportou na cidade no começo dos anos 1990. Mas todos sabiam da vida de todo mundo. Até os detalhes mais  íntimos . . .

Estou com cinquenta e dois. Bia tem seis e meio.

Já lê, arranha a escrita, e entende de internet, arquivo, pen drive, mouse etc. Tem celular. Ficou impressionada com um telefone analógico que descobriu no banheiro de um Hotel. Papai, pra que servem esses furinhos?

Galinhazinha de granja, o seu espaço é o do prédio. Rua só acompanhada . . .

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