Ao ver foto do
seriado “Perdidos no Espaço”, passou um filme na minha cabeça. Lembrei da Telefunken
que ocupava a sala de visitas da minha casa em Vicência. Um dos poucos televisores
da cidade. Toda noite, a janela ficava pequena para tantos telespectadores.
Na linha, lembrei da
escola onde fiz o primário: Juvenato Padre Guedes, ao lado da Igreja de Santa
Ana, padroeira da cidade. Aos seis anos, já empunhava o Almanaque Fontoura com a
história de Jeca Tatu. Doido pra começar a estudar. Não conseguia fazer
matrícula, era muito novo. Naquele tempo, iniciava-se os estudos só aos sete.
Estefânia Carneiro da
Cunha, a diretora, dizia a minha mãe: deixa ele ficar Irene, fica aqui comigo
na Secretaria . . .Tive o privilégio de conhecer tão digna senhora, que hoje empresta o nome a
uma das principais avenidas da cidade. Irmã
de Otaciano Carneiro da Cunha, padrinho do meu pai.
E as brincadeiras
eram tomar banho de rio, fazer cabana, esconder-se, jogar pião, lançar ferro na praça quando o barro estava mole etc
. Na rua, solto feito bode. Lá vai o filho de seu Benedito, de seu Carlos Sena
e de seu Hemetério, de seu Aurinho . . . era a turma.
Vez ou outra, uma
cabeça lascada. Um sujeito que morava no beco da Biblioteca era desprovido de pestana, motivo por que tinha a alcunha de “sem
pestana”. Paciente, mas nem tanto. E a
toada quando se passava no beco era essa: sem pestana, sem pestana, sem pestana
. . . E a resposta eram as pedradas . . . Era uma correria medonha.
Por puro lance de
sorte, conseguiu o sem pêlo acima dos olhos atingir a cabeça do meu irmão mais
novo. Foi um chororô. Papai ficou indignado. Mandou chamá-lo. E você pode jogar
pedra na cabeça dos meninos seu Sem Pestana? Que bobagem é essa? Por acaso você
tem pestana? Malgrado o talho, ficou por isso mesmo . . .
Comia-se bem. Mas se
comia o que havia pra comer. Não tinha essa historinha de predileção por
comida. Aniversário, coisa rara. Coxinha, docinho, salgadinho etc. nada disso
fazia parte do cardápio. Dentista? Só fui quando tive dor de dente, aos sete ou
oito anos. Lembro ainda da assustadora broca movida a pedal.
Telefone, só nos filmes.
Por incrível que pareça, a engenhoca só aportou na cidade no começo dos anos
1990. Mas todos sabiam da vida de todo mundo. Até os detalhes mais íntimos . . .
Estou com cinquenta e
dois. Bia tem seis e meio.
Já lê, arranha a
escrita, e entende de internet, arquivo, pen drive, mouse etc. Tem celular. Ficou
impressionada com um telefone analógico que descobriu no banheiro de um Hotel.
Papai, pra que servem esses furinhos?
Galinhazinha de
granja, o seu espaço é o do prédio. Rua só acompanhada . . .
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