sexta-feira, 7 de novembro de 2014

História pra domir

Toda noite conto uma história pra Bia dormir. Ela se acostumou. Já surgiu de tudo: bicho que fala, sujeito que viaja no tempo, vampiros, lobisomens, alienígenas . . . o escambau. Vez ou outra, ela adormece logo no início, mas eu não deixo por menos e vou até o fim. Sempre o bem vence o mal. Daqui a um tempo vou alertá-la de que não é bem assim, ou melhor, de que não é sempre assim.

Quando ela está muito acesa e eu com sono, uso de uma tática infalível: descrever as coisas em pormenor. Campos floridos, lagos de água clara, casas com alpendres, telhados pintados etc. É tiro e queda.

A história que ela mais gosta, desde os cinco anos, é a de uma vampira que namora um lobisomem. Putz, a mais tola de todas!

Hoje, corri novamente na ciclofaixa. Não havia tanta gente como nos finais de semana normais. É que o Recife viajou pra o interior, decerto para curtir as festas juninas. Encontrei pelo centro um "moi" de mexicanos bêbados. Tive vontade de alertá-los de que, aqui, cu de bêbado não tem dono. Não o fiz porque estava correndo.

Correr na ciclofaixa é muito interessante, pois que vai-se vendo pessoas de diversas “qualidades”. É o trem:

Trem de Ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pato
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
Que vontade
De cantar!
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficia
Ôo...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Ôo...
Vou mimbora voou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Ôo...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

O Marco Zero cada dia melhor. Na volta, lá pelas nove, o forró já comia no centro. Corri 32 KM. O sol castigou mas a frequência não subiu tanto. Depois que perdi alguns quilos, percebo que ela melhorou bastante, bem assim o estado geral pós corrida. Não fico cansado ao longo do dia.

Ano passado, antes da perda de peso, fiz uma série de exames e deu tudo “normal”. Mas não me fio muito nisso. Já disse alhures o motivo. Ora, alguns resultados são expressos em ng/dl, ou seja, 1bilionésimo de grama (1ng=0,000000001g) por decilitro, o que com efeito é quase nada. Basta o sujeito soltar um pum e a coisa se altera.

Segue o link do percurso e algumas fotos: http://www.endomondo.com/workouts/361310136/1682336?state=cG9zdF93b3Jrb3V0X3RvX3RpbWVsaW5lOmZhbHNl

O cartão

O cartão.

Mirei o horizonte em busca de nuvens arredias. O sol castigava, malgrado o aguaceiro da noite anterior. Avaliei a minha disposição, bem assim a "situação" do trânsito. Optei pela bike. O futuro, literalmente, pregar-me-ia uma peça. Logo após a AABB, derrapei no asfalto e visitei o chão.

Senti o tornozelo e sangrei por uma abertura de mais ou menos três centímetros. Aportei na farmácia mais próxima. Algodão, desinfetante e esparadrapo. Feitos os devidos reparos, tentei esquecer. Mas que fui alertado da possibilidade de tétano.

De maneira que depois do expediente danei-me pra vacine. -- Vacina antitetânica está em falta e se vire - o descaso é uma constante. Fugi pra o Posto de Saúde de Casa Amarela, onde também não satisfiz o meu desejo.

Cogitei o Albert Sabin, pertinho da Jaqueira. Exatamente às 17:40 hs, dei de cara com uma porta fechada e duas funcionárias doidas pra ir embora. Ainda pensei em fazer a proposta de levá-las (nesse momento estava com o possante), mas desisti, pois que poderia ser mal interpretado. O jeito foi aceitar os desígnios do acaso.

Hoje cedo, depois de deixar a rebenta no colégio, voltei ao Hospital. Às 7:30 hs estava sendo atendido. As mesmas enfermeiras. A má impressão do dia anterior esvaneceu. Tomei a DT-Adulto Difteria Tétano e Anti-Hepatite B. E ainda ganhei um CARTÃO de imunização (SUS).

Nem tudo está perdido.

Balzaquiana

A máxima “Cobra que não anda não engole sapo” se aplica a mim, mas de forma literal. Como serpenteio pelas ruas apertadas dessa nossa cidade que não resiste a breve chuva em dias de maré cheia, aceito quase que diariamente o batráquio. Ontem mesmo digeri um, a seco. Vinha eu na dobrável em rua lateral à praça em frente da Jaqueira, quando, resolutamente, um som de buzina teimava em tirar-me o sossego de ciclista. Ressabiado, olhei para um lado, para o outro, mas não encontrei escape, de modo que a única alternativa foi aumentar a velocidade. Não satisfeito, o som avolumou-se. Tratava-se de uma Balzaquiana. Comestível, mas muito impaciente.

Ninguém é tão importante.

Repito. Ninguém é tão importante quanto aparenta sê-lo. Ora, se Barack Obama, que é o homem que tem o controle do botão pra acionar uma terceira, e derradeira, guerra mundial, brigou em público com a esposa por conta de uma paquera que, diga-se de passagem, não se era de desprezar, o que dizer dos humanos comuns?

Tenho plena convicção, se se escavacar a vida dos que se acham superiores, ver-se-á decerto imperfeições ou "normalidades", quando não se descobrem frustrações que os levam a ficar assim.

De maneira que se você conseguiu chegar ao alto posto de síndico do prédio ou de governador do Estado, não leve para o cargo o fato de seu filho não gostar de mulher, ou de sua esposa estar apaixonada pelo motorista.

sábado, 10 de maio de 2014

Chuchu não tem gosto mas faz bem à saúde!

Meu negócio está de pé, tudo depende agora de sua posição. O nome do proponente Armando Botelho Pinto, vulgo Dr. Fuldêncio. Para o oblato, tudo leva a crer se trata de enrabação. Pois é assim, às vezes diz-se uma coisa e na recepção entende-se outra.

Nos filmes hollywoodianos tem muito disso. O Americano é craque em criar expectativa. Vai moendo. O sujeito declara o seu amor, no que é correspondido, mas as coisas vão-se complicando, complicando, pra tudo dar certo no final. Não me esqueço de “O Sexto Sentido”, em que a alma de “Bruce Willis” zombeteia o filme inteirinho como se matéria fosse.

Já o Brasileiro é imediatista. Se é pra ter sexo, tira-se logo a roupa, mostra-se meio metro de peito e vasta cabeleira sexual. Cláudia Ohana ficou famosa na particularidade. Na década de oitenta era o “must”. Por incrível que possa parecer, assisti a filme em que Eva Vilma desfila nuinha da silva. Bundinha chocha.

Mas os atores têm mania de dizer que tudo é de “forma técnica” e coisa e tal. Alegar tecnicidade em cena cujo ator se posta nu em cima de atriz também nua é o mesmo que afirmar chifre em cabeça de cavalo. A não ser que o sujeito não goste da fruta, tenha problemas circulatórios, ou seja casado de há muito com a parceira.

Chuchu não tem gosto, mas faz bem à saúde.

Tudo o mais se faz por contrato!

Não vou só de bike. Apetecem-me também os ônibus, sobretudo o que vem de um lugar depois de Nova Descoberta chamado Cassiterita, não obstante alcançar somente a Rosa e Silva. É que o Córrego da Areia, apesar de passar na Agamenon, trafega pela Rui Barbosa, sempre engarrafada. Mas não me importo de pegar qualquer ônibus que passe perto da Jaqueira; se engarrafar, desço e vou a pé. O carro fica na garagem, guardadinho. 

O Cassiterita é micro-ônibus, acho que sobra do transporte alternativo que dominava o Recife, no tempo de João Paulo. Trafega pela rua do Futuro. Alguns têm ar condicionado. 


Vez ou outra, o comum inusitado. Quarta-feira, vários adolescentes, vindos de escola que não pude identificar pela farda, adentraram no coletivo. Uma mocinha de mais ou menos dezessete anos e um rapazinho, com pinta de donzelo __ o assunto não prescinde de estudo mais elaborado, em momento oportuno__, de mesma faixa etária, sentaram-se ao lado de mim. 


E a conversa rolou solta. Acho que se tratava de vestibular. Ele, calouro do curso de engenharia; ela, indecisa. De forma nítida, rolava um “clima”, uma paquera. Olhares, risinhos, tudo como manda o figurino. Em certo momento, ela, mais incisiva, perguntou: Qual o teu nome? Estamos conversando há bastante tempo e ainda não sei o teu nome?! Depois das devidas apresentações, o rapazola pediu parada e desceu, não deixou entretanto de escutar “amanhã a gente se fala na escola”.


Achei muito legal. Lembrei-me na hora de minha saga no Forró do Náutico, no auge dos meus 18 anos, quando respondi que meu nome era Benedito e fui intimado a deixar de brincadeira e a dizer o meu nome verdadeiro. 


Noutro dia, escutei na marra o “pastor’ RR Soares. O motorista colocou o rádio nas alturas. Porra, até no coletivo aquela conversa mole de ungir as coisas. Esses sujeitos são uns “cara de pau”, e o povão, malgrado tão esperto pra certas coisas, deixa-se iludir facilmente. Ungir um cacete! 


Mas que volto à paquera. Decerto não transpassou de forma significativa pelas cabeças daqueles estudantes, naquele momento de pura catarse, qualquer sentimento relevante sobre o futuro ou outra inconveniência. As palavras saíam, mas com significado adaptativo ao contexto.


Esta é a graça da coisa. Gostar por gostar, sem cobranças, sem exigências, sem se pensar em mais nada, e sentir-se bem com isso. Tudo o mais se faz por contrato.

Preconceito

Há mais ou menos 23 anos, que, diga-se de passagem, não é pouco tempo, inventei de internar-me num SPA por conta de 64kg em 1.62 m de altura. Passei apenas três dias e murchei feito maracujá. Foi uma fome danada, comia-se apenas mato; não sei como aguentei. Depois de alguns dias os quilos voltaram - estavam com saudade, decerto -, e nunca mais me abandonaram.

Foi nesse mesmo SPA que conheci uma gordinha com quem convivi por mais ou menos um ano. Nunca me importei de ela ser gorda. Sexualmente falando, nada ficava a dever a nenhuma magrinha, muito pelo contrário; fica o alerta para os preconceituosos, geralmente aqueles que sempre comeram no mesmo prato. Tenho comigo o que incomoda com efeito é a opinião alheia, motivo por que se vive hoje em dia praticamente de aparência. 

Mas se vai mais além. Tem-se preconceito até com quem anda a pé ou de ônibus, ou não usa roupa de grife, ou não vive viajando, ou não é feliz. Porra, e tem que ser feliz? E que merda é ser feliz? É gastar milhões numa viagem pra ver museu? Ou gastar R$ 300,00 numa refeição com “amigos”, pra despejar tudo no ralo no dia seguinte!? 


Os atuais estudos sobre a “psicologia da felicidade” têm demonstrado que parte da condição de ser feliz é inata, uma predisposição genética que confere maior ou menor propensão para sentir emoções positivas, ou seja, um dom. A outra parte diz com os eventos cotidianos.


Pra mim, ser feliz (parte não inata) é acordar com disposição e correr 10 KM em Brennand, chegar em casa, encontrar minha filhota esbanjando saúde e levá-la ao colégio. Ser feliz pra mim também é sentar confortavelmente numa cadeira de papai e ler um conto no KOBO, e depois cochilar e pensar que vou continuar fazendo isso até os 90; não é numerus clausus.


Tergiversei.


Em memória de minha fase etílica, digo, de forma categórica, opinião alheia pra mim é como cerveja quente.