domingo, 29 de março de 2009

Daquilo que alguém representa

São de Mário Quintana, que não conseguiu ser um dos imortais da Academia Brasileira de Letras, casa que abriga Marco Maciel, Sarney, Paulo Coelho etc., essas pérolas:

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.
Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas...
Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não astava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu...
Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. (texto escrito pelo poeta para a revista Isto É de 14/11/1984)

Quem não compreende um olhar
tampouco compreenderá uma longa explicação.

Não importa saber se a gente acredita em Deus:
o importante é saber se Deus acredita na gente...

O despertador é um acidente de tráfego de sono..

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

Todos esses que aí estão
atravancando meu caminho,
eles passarão...
eu passarinho!

Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia.

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...

O tempo é a insônia da eternidade.

A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.


Bilhete
Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima
dos telhados,
deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho,
amada,

que a vida é breve,
e o amor
mais breve ainda.

Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais:
o excesso de gente impede de ver as pessoas...



E Schopenhauer sapeca:

O valor que atribuímos à opinião dos outros, e nossa preocupação constante em relação a ela, ultrapassam, via de regra, quase toda a expectativa racional, de modo que tal preocupação pode ser considerada como um tipo de mania difundida universalmente, ou antes, inata. Em tudo o que fazemos ou deixamos de fazer, quase sempre levamos em conta, antes de qualquer coisa, a opinião alheia e, após um exame apurado, iremos notar que essa preocupação surge quase a metade de todas as aflições e angústias que já sentimos; pois ela está no fundo de todo o nosso amor-próprio – com tanta frequência lesado, porque é tão doentiamente suscetível -, no fundo de todas as nossas vaidades e pretensões, assim como de nossa pompa e ostentação.

Atribuir demasiado valor à opinião alheia é uma representação errônea que predomina universalmente.

Será de grande contribuição para nossa felicidade se, com o tempo, conseguirmos finalmente compreender que cada um vive, anates de mais nada e efetivamente, em sua própria pele e não na opinão de outrem, e que, em conformidade com isso, nossa condição real e pessoal, tal como determinada pela saúde, pelo temperamento, pelas capacidades, pelos rendimentos, pela mulher, pelos filhos, pelos amigos, pela residência etc., é cem vezes mais importante para a nossa felicidade do que aquilo que aos outros agrada fazer de nós.


Corri 13,5 Km terça-feira passada, com George em Brennand. Corremos na quinta 15km, também em Brennand. Não houve longão nesse final de semana, decimos descansar. Seguem os gráficos:


domingo, 22 de março de 2009

Correr rápido

Estou de “saco cheio” de ler revistas sobre corridas. Elas não têm mais o que publicar: é planilha para isso, para aquilo, para correr 10Km, para correr 21Km, para ficar parado etc. Sobre tênis então . . . É tênis para 10Km, para 42 Km, para pisada pronada, para pisada supinada, para pisada não sei mais o quê. Sobre alimentação, nem se fale: coma isso, coma aquilo, não coma tal alimento, coma 1 hora antes do exercício, e assim vai . . . Enfim, um SACO!

Em 2006, quando estava na concentração da meia maratona mais rápida que já fiz, ou seja, a meia-maratona de João Pessoa (1h e 48mim), presenciei uma conversa que nunca mais esqueci. Um sujeito desmilinguido fez uma “festa” danada ao encontrar-se com outro, também desmilinguido: __ OH! Fulano, pensei que tu nem vinhas correr, sobre que estavas doente . . . __ É, de fato, estava doente. Passei uns quinze dias no hospital, saí semana passada. O médico, inclusive, me recomendou não correr durante uns dois meses, né? Por causa da pneumonia . . . mais eu não podia deixar de vir, de representar o movimento, né?

Olhei para a figura, e ele estava com uma camisa do MST. Calçava um sapato parecidíssimo com um “conga”. Não me contive e cheguei mais perto para ver o desenrolar da história.

__E aí, tá pretendendo terminar em quanto tempo?
__Num sei não, tô pensado em 1:30hs, por causa da doença, né?

E eu que havia 4 anos no maior controle da alimentação, com o melhor tênis do mercado, com todo tipo de informação, estava planejando chegar com 1:50hs . . .

Corro por prazer e para “desestressar”. E só. Correr rápido é uma questão de genética. Não adianta forçar o corpo quando não há uma resposta adequada aos estímulos, com o agravante de que é tênue o limiar entre a saúde e o “overtraining” .

Corri 21Km ontem em Brennand, com George. Corremos 15Km, na quinta-feira, e 13,5Km, na terça, também em Brennand. Publico os gráficos da terça e da quinta, e uma foto, do sábado.



quinta-feira, 19 de março de 2009

Quem Morre?

Hoje, ataco de Pablo Neruda:

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o brancoe os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorteou da chuva incessante.

Morre lentamente,
quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maiorque o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Riso

Copiei o texto seguinte de um blog. Não consegui identificar o autor. Reputo-o excelente.
O Riso e a Sístase (2): o Mecanismo
Retomemos nossas considerações sobre O Riso, do filósofo francês Henri Bergson. Ele havia determinado que o elemento comum a todas as figuras e situações que consideramos cômicas era a tendência a uma postura rígida e automatizada, tanto no corpo quanto no comportamento. Mostramos como essa postura é ponto por ponto idêntica à couraça do caráter, um conceito que nasceu no consultório do psicanalista Wilhelm Reich, mas que tem implicações políticas, sociais e até metafísicas muito mais amplas.
Na visão de Reich, a couraça do caráter é ao mesmo tempo o principal sintoma e o instrumento por meio do qual um sistema social alienante, que drena a energia do indivíduo, reduzindo-o a uma espécie de autômato social, condenado a viver de acordo com uma série de rotinas pré-programadas. Para Reich, que nessa época seguia uma orientação marxista, as origens desse sistema escravizante deviam ser buscados nas desigualdades econômicas e na exploração do homem pelo homem.
Quase dois mil anos antes de Reich, contudo, os gnósticos já haviam se debruçado sobre essa questão e concluíram que as desigualdades e injustiças sociais são um efeito do sistema, e não sua causa. Na terminologia gnóstica, esse sistema é chamado de sístase, um conceito que abrange tanto o automatismo psíquico e a rigidez corporal de Bergson quanto a couraça muscular e a couraça de caráter de Reich, mas eleva-os a uma dimensão ontológica: na concepção gnóstica, a sístase é um filtro que nos impede de perceber a verdadeira realidade, isolando-nos em um mundo ilusório.
Se retornarmos ao estudo de Bergson com essa perspectiva em mente, não teremos a menor dificuldade em encontrar a sístase descrita com clareza em todos os seus aspectos. Na filosofia de Bergson, a sístase é denominada de o mecanismo.
O mecanismo. - É quase um truísmo dizer que o humor é um espelho deformante, que nos faz rir porque exagera nossos próprios defeitos. Bergson, porém, demonstra que não são quaisquer defeitos que se prestam a essa deformação cômica, mas apenas aqueles que nascem da rigidez e do automatismo. Esses traços se apresentam reunidos na idéia do mecanismo, da qual o filósofo extrai o que considera uma lei geral do humor: As atitudes, os gestos e os movimentos do corpo humano são risíveis na exata medida em que esse corpo nos faz pensar numa simples mecânica. E algumas linhas adiante: "A visão de um mecanismo a funcionar dentro da pessoa é coisa que abre para uma multidão de efeitos engraçados; no mais das vezes, porém, é visão fugaz, que se perde logo em seguida no riso que provoca. É preciso um esforço de análise e reflexão para fixá-la." Para Bergson, a causa do riso, mesmo que não tenhamos consciência disso, é essa inflexão da vida na direção da mecânica: "Porque tenho agora diante de mim um mecanismo que funciona automaticamente. Já não é vida, é automatismo instalado na vida, imitando a vida. É comicidade." E, mais detalhadamente:
A comicidade é esse lado da pessoa pelo qual ela se assemelha a uma coisa, aspecto dos acontecimentos humanos que, em virtude de sua rigidez de um tipo particular, imita o mecanismo puro e simples, o automatismo, enfim o movimento sem a vida. Exprime, portanto, uma imperfeição individual ou coletiva que exige correção imediata. O riso é essa correção. O riso é certo gesto social [sic] que ressalta e reprime [sic] certa distração especial dos homens e dos acontecimentos.
Deixemos estar, por enquanto, a atribuição do riso ao social e façamos de conta que não vimos o autoritário verbo reprimir, que vai contra a essência libertária do riso, se insinuando entre as palavras de Bergson. O que interessa ressaltar é que a dinâmica do riso detecta e aponta, no interior do nosso próprio corpo e de nossa mente mesma, a existência de um mecanismo que nos impede de agir com liberdade, um mecanismo que nos impele a seguir uma programação fixada. Seu funcionamento é análogo ao da sístase e, da mesma forma que esta, rastreando os diferentes níveis de operação do mecanismo, Bergson passará da esfera individual para o campo da sociedade, mostrando que, também aí, ele se encontra plenamente ativo:
Risível será, portanto, uma imagem que nos sugira a idéia de uma sociedade fantasiada e, por assim dizer, de uma mascarada social. Ora, essa idéia se forma logo que percebemos o que há de inerte, de pronto, de confeccionado enfim, na superfície da sociedade viva. É a rigidez outra vez, e que destoa da flexibilidade no interior da vida. O lado cerimonioso da vida social deverá, pois, conter uma comicidade latente, que só precisará de uma oportunidade para vir à luz.
O reconhecimento da mascarada social, o fato de que a vida em sociedade impõe determinados papéis que devemos cumprir mecanicamente, aliás, bastaria para mostrar como é problemática a idéia de que o riso seja um impulso corretivo que nasce da dinâmica social. Porque esta última participa, e de fato decorre, da lógica implacável do mecanismo, de tal forma que, se quisermos encontrar a fonte daquilo que em nós se opõe a ele, será preciso procurar em outro ponto que não o social.
Será, então, na natureza que o encontraremos? Não, porque imediatamente antes de tratar da mecânica social, Bergson já havia encontrado o mecanismo entranhado na própria natureza: "Uma natureza arremedada mecanicamente, esse é então um motivo francamente cômico, sobre o qual a imaginação poderá executar variações com a certeza de obter grande sucesso em matéria de riso." E cita como exemplo Tartarin sur les Alpes, primeiro romance da trilogia Tartaran de Tarascon, de Alphonse Daudet, no qual o protagonista descobre "que a Suíça é movida por maquinismos, como os porões da Ópera, explorada por uma companhia que ali mantém cascatas, geleiras e falsas fendas." Ao se superpor a regulamentação automática da sociedade à imagem de um mecanismo inserido na natureza, chega-se a uma conclusão cujo alcance ontológico o humor não deixou de explorar: "O resultado da combinação será, evidentemente, a idéia da regulamentação humana a substituir as leis da natureza."
É, nem mais, nem menos, a concepção gnóstica da natureza que reencontramos aqui, aquela mesma que também reaparece em filmes como O Show de Truman, de Peter Weir, e livros como Time Out of Joint, de Philip K. Dick, e naturalmente na trilogia Matrix, dos Irmãos Wachowski: a idéia de que o mundo que tomamos como natural é, na verdade, um cenário ou uma representação. E, como ocorre com a sístase gnóstica, o humor, ao menos na interpretação de Bergson, aponta para uma continuidade entre todos os níveis de funcionamento do mecanismo: "Assim, em resumo, o mesmo efeito vai sempre se sutilizando, desde a idéia de mecanização artificial do corpo humano, se assim pudermos nos expressar, até a de uma substituição qualquer do natural pelo artificial."
Trata-se da evolução mesma da sístase, que se implanta no organismo como um sistema de filtros e travas internalizados, os quais agem como filtros cognitivos que coordenam as relações do homem consigo mesmo, com os outros homens e com o mundo, gerando uma falsa realidade que ingenuamente tomamos como sendo a natureza. Mas qual a origem desse sistema? E por que ele veio a se constituir?
Uma zona intermediária. - A resposta de Bergson é dada no último capítulo de O Riso, quando ele abandona temporariamente o assunto do livro para tecer considerações sobre o objetivo da arte em geral. "Se nossos sentidos e nossa consciência fossem diretamente impressionados pela realidade", alega Bergson, "se pudéssemos entrar em comunicação imediata com as coisas e conosco, acredito que a arte seria inútil, ou melhor, que seríamos todos artistas, pois nossa alma vibraria então continuamente em uníssono com a natureza." Se precisamos da arte e dos artistas é precisamente porque isso não acontece: "Tudo isso está em torno de nós, tudo isso está em nós e no entanto nada de tudo isso é percebido por nós distintamente. Entre nós e a natureza - mas que digo -, entre nós e nossa própria consciência, interpõe-se um véu, véu espesso para o comum dos homens, véu leve, quase transparente, para o artista e o poeta."
Desnecessário dizer, esse véu é apenas outro nome para a sístase, cujo mecanismo Bergson vem decifrando ao longo de toda a obra. Inspirado pelo darwinismo, Bergson vai buscar suas causas nas vicissitudes da evolução, e sua hipótese foi a principal influência para a teoria do cérebro como válvula redutora que Aldous Huxley desenvolve em As Portas da Percepção: "Era preciso viver, e a vida exige que apreendamos as coisas na relação que elas têm com nossas necessidades. Viver consiste em agir. Viver é só aceitar dos objetos a impressão útil, para responder-lhes por reações apropriadas: as outras impressões devem obscurecer-se ou só nos chegar confusamente." Eis aí, portanto, a gênese daquela distração fundamental que faz com que o homem caia nos automatismos de percepção e comportamento denunciados pelo humor: "Eu olho e acredito ver, dou ouvidos e acredito ouvir, estudo-me e acredito ler no fundo de meu coração. Mas o que vejo e ouço do mundo exterior é simplesmente o que meus sentidos dele extraem para aclarar minha conduta; o que conheço de mim mesmo é o que aflora à superfície, o que toma parte da ação. Meus sentidos e minha consciência, portanto, só me entregam da realidade uma simplificação prática." A conclusão de Bergson, taxativa e inescapável, é a de que "não vemos as coisas mesmas; limitamo-nos, no mais das vezes, a ler etiquetas coladas sobre elas". Nossa realidade é feita de generalidades e símbolos, "uma zona intermediária entre as coisas e nós", que nos exclui ao mesmo tempo do mundo e de nós mesmos.
Mais importante ainda, essa simplificação prática, essas etiquetas coladas sobre as coisas não são uma criação exclusivamente minha, mas são impostas de fora, pela história, pela cultura e pela sociedade, a partir das quais "são-me traçados de antemão caminhos nos quais minha ação enveredará. Esses caminhos são aqueles pelos quais a humanidade inteira passou antes de mim". Os gnósticos chamavam esses "caminhos traçados de antemão" (e que, diria Heidegger, não conduzem a parte alguma) de heimarmene ou anankê, a fatalidade e a necessidade, que cerceiam a liberdade espontânea do indivíduo e o obrigam a viver de acordo com um destino predefinido, obedecendo a leis sobre as quais ele não tem nenhum controle. E tanto as imutáveis leis da natureza quanto as rígidas normas de conduta social, como o humor já havia intuído, não passam de manifestações locais desse mecanismo mais amplo, que nos aprisiona a todos em suas engrenagens.
É esse, portanto, o quadro contra o qual o riso se insurge, mesmo que (e até principalmente porque) aquele que ri e aquele que faz rir não tenham consciência disso. É um olhar implacável, que atravessa a realidade de um extremo a outro, devassando nossa sujeição ao mecanismo da sístase em todas as esferas da vida e revelando seu ponto de origem naquilo mesmo que consideramos (erroneamente, talvez) como o que temos de mais íntimo: nosso corpo e nosso caráter, nossa postura, enfim, no e diante do mundo.

Avaliem se a piada condiz com o que foi dito:

Vários amigos estavam tomando uma cervejinha no final da tarde de uma sexta-feira. Depois de algumas rodadas, com o efeito do álcool já aforando, um deles, de chofre, veio com essa conversa:

__ Joaquim, sabes que tua mulher está te traindo?

Todos foram pegos de surpresa.

__ E o pior, acresceu, só trai por trás: a famosa “gaia” de cu!

O clima ficou tenso. O Joaquim não sabia o que fazer: não sabia se quebrava a cara do sujeito (mui amigo), ou se ia embora. Para amenizar os efeitos da declaração, outro amigo saiu-se com essa:

__ Joaquim, não te preocupe com isso. Olha, vou te contar uma história, que a traição da tua mulher comprada com ela é um nada:

Quando eu tinha 18 anos, fui convidado para um baile de formatura de conclusão do 2º grau. Salão decorado, orquestra famosa, as moças de longo, os rapazes de blazer, enfim, todo o glamor necessário àquele acontecimento.
Pois bem, procurei no salão a moça mais bonita. Hesitei, num primeiro momento, em chamá-la para dançar: ela não me dava “bolas”. Mesmo assim arrisquei. Ela foi dançar comigo.
Conversa vai, conversa vem, papo legal, e eu na maior felicidade. De súbito, senti uma dorzinha de barriga, não dei importância. Acontece que a dor aumentou assustadoramente. Fiquei num dilema terrível: pedia para parar e corria o risco de perder a moça para outro, ou arriscaria soltar um “pum”, disfarçadamente, ali mesmo. Optei pela primeira alternativa.
Corri, fui a um banheiro, enfrentei uma fila, até que consegui sentar-me na bacia: fiz força e nada, só saiu um “punzinho”. Voltei ao salão, olhei para um lado, para o outro, e encontrei a moça. Felicidade, ninguém a tinha chamado para dançar. Renovei o pedido, e voltamos ao salão.
Passados alguns minutos de puro prazer, quem foi que voltou? A dorzinha. Cogitei comigo mesmo: ora, se fui ao banheiro e só saiu um punzinho, vou soltá-lo aqui mesmo no salão. Disfarçadamente, levantei um pouco a perna, fiz uma forcinha e . . . . MERDA! Foi merda meu amigo, foi merda para todo lado. Melou minha calça inteirinha, melou o vestido da moça, melou quem dançava junto, foi tanta merda fedida que até a orquestra parou de tocar. A moça só não me chamou de santo: cabra safado, cafajeste, cachorro, cagão, sem vergonha etc.


Nesse momento, Joaquim não suportou mais e perguntou: Tá bem, sei que tu és um cagão, e daí, o que isso tem a ver com a “gaia” da minha mulher?

__ Ora Joaquim, se o meu cu, que é meu e de mais ninguém, me traiu quando eu tinha 18 anos, quanto mais o da tua mulher, que nem teu é! Te liga cara!

Mudando de assunto, publico os gráficos das últimas corridas: 21km, no dia 08/03, 13,5 km, no dia 10/03, e 15Km, hoje. Todas elas em Brennand. Corremos eu e George.












sexta-feira, 6 de março de 2009

Sociabilidade

Li em algum lugar que para se conquistar um amigo tem-se que fechar um olho; para mantê-lo, fechar os dois. A máxima não é de tão fácil aceitação, principalmente para os incautos adolescentes. Para mim, uma verdade absoluta.

Tal posição vai ao encontro, de certa forma, das idéias do filósofo Schopenhauer, que, em sua obra “Parerga e parapilomena”, verbera, de forma categórica, a ânsia desenfreada pela sociabilidade. Vejam o que ele diz:

“a sociabilidade de cada um está quase na proporção inversa do seu valor intelectual. Dizer ele é bastante insociável quase significa dizer ele é um homem de grandes qualidades

“a tranqüilidade espiritual, que, depois da saúde, constitui o elemento mais essencial de nossa felicidade, é ameaçada pela sociedade e, portanto, não pode subsistir sem uma dose significativa de solidão”

“a sociabilidade também pode ser considerada como um mútuo aquecimento intelectual dos homens, parecido ao produzido corporalmente quando, em ocasião de frio intenso, eles se juntam bem perto uns dos outros. Mas quem tem bastante calor intelectual em si não precisa de tal agrupamento”

Em apoio às suas idéias, o filósofo imaginou uma fábula bem interessante e reveladora:

“Num dia frio de inverno, uma vara de porcos-espinhos se une em grupo cerrado para se proteger mutuamente do congelamento com seu próprio calor. Mas logo sentiram seus espinhos, o que os afastou de novo uns dos outros. Porém, a necessidade de aquecimento novamente os aproximou e aquele incômodo se repetiu, de modo que eram atirados de um lado para outro, entre esses dois sofrimentos, até que encontraram uma meia distância, na qual puderam suportar-se da melhor maneira possível. Assim também, a necessidade da sociedade, nascida do vazio e da monotonia interior, impele os homens uns para os outros. Mas suas múltiplas qualidades repelentes e seus erros insuportáveis fazem com que se distanciem de novo. A distância média que finalmente encontram, e pela qual pode subsistir uma vida em comum, é a polidez e as boas maneiras. Na Inglaterra, àquele que não se mantém nessa distância, grita-se: Keep your distance. Por conta dela, a necessidade de aquecimento mútuo é apenas parcialmente satisfeita, mas, em compensação, a picada do espinho não é sentida. Quem, entretanto, tem bastante calor íntimo e próprio, permanece de bom grado afastado da sociedade, para não sofrer nem provocar danos.”

Mudando de assunto, corri hoje 15 Km, com George, e 13,5 Km, na terça-feira próxima passada, com Milton. Seguem os gráficos do Garmin e uma foto na chegada (eita fotozinha vagabunda, parece até que estou grávido!).