quinta-feira, 12 de março de 2009

Riso

Copiei o texto seguinte de um blog. Não consegui identificar o autor. Reputo-o excelente.
O Riso e a Sístase (2): o Mecanismo
Retomemos nossas considerações sobre O Riso, do filósofo francês Henri Bergson. Ele havia determinado que o elemento comum a todas as figuras e situações que consideramos cômicas era a tendência a uma postura rígida e automatizada, tanto no corpo quanto no comportamento. Mostramos como essa postura é ponto por ponto idêntica à couraça do caráter, um conceito que nasceu no consultório do psicanalista Wilhelm Reich, mas que tem implicações políticas, sociais e até metafísicas muito mais amplas.
Na visão de Reich, a couraça do caráter é ao mesmo tempo o principal sintoma e o instrumento por meio do qual um sistema social alienante, que drena a energia do indivíduo, reduzindo-o a uma espécie de autômato social, condenado a viver de acordo com uma série de rotinas pré-programadas. Para Reich, que nessa época seguia uma orientação marxista, as origens desse sistema escravizante deviam ser buscados nas desigualdades econômicas e na exploração do homem pelo homem.
Quase dois mil anos antes de Reich, contudo, os gnósticos já haviam se debruçado sobre essa questão e concluíram que as desigualdades e injustiças sociais são um efeito do sistema, e não sua causa. Na terminologia gnóstica, esse sistema é chamado de sístase, um conceito que abrange tanto o automatismo psíquico e a rigidez corporal de Bergson quanto a couraça muscular e a couraça de caráter de Reich, mas eleva-os a uma dimensão ontológica: na concepção gnóstica, a sístase é um filtro que nos impede de perceber a verdadeira realidade, isolando-nos em um mundo ilusório.
Se retornarmos ao estudo de Bergson com essa perspectiva em mente, não teremos a menor dificuldade em encontrar a sístase descrita com clareza em todos os seus aspectos. Na filosofia de Bergson, a sístase é denominada de o mecanismo.
O mecanismo. - É quase um truísmo dizer que o humor é um espelho deformante, que nos faz rir porque exagera nossos próprios defeitos. Bergson, porém, demonstra que não são quaisquer defeitos que se prestam a essa deformação cômica, mas apenas aqueles que nascem da rigidez e do automatismo. Esses traços se apresentam reunidos na idéia do mecanismo, da qual o filósofo extrai o que considera uma lei geral do humor: As atitudes, os gestos e os movimentos do corpo humano são risíveis na exata medida em que esse corpo nos faz pensar numa simples mecânica. E algumas linhas adiante: "A visão de um mecanismo a funcionar dentro da pessoa é coisa que abre para uma multidão de efeitos engraçados; no mais das vezes, porém, é visão fugaz, que se perde logo em seguida no riso que provoca. É preciso um esforço de análise e reflexão para fixá-la." Para Bergson, a causa do riso, mesmo que não tenhamos consciência disso, é essa inflexão da vida na direção da mecânica: "Porque tenho agora diante de mim um mecanismo que funciona automaticamente. Já não é vida, é automatismo instalado na vida, imitando a vida. É comicidade." E, mais detalhadamente:
A comicidade é esse lado da pessoa pelo qual ela se assemelha a uma coisa, aspecto dos acontecimentos humanos que, em virtude de sua rigidez de um tipo particular, imita o mecanismo puro e simples, o automatismo, enfim o movimento sem a vida. Exprime, portanto, uma imperfeição individual ou coletiva que exige correção imediata. O riso é essa correção. O riso é certo gesto social [sic] que ressalta e reprime [sic] certa distração especial dos homens e dos acontecimentos.
Deixemos estar, por enquanto, a atribuição do riso ao social e façamos de conta que não vimos o autoritário verbo reprimir, que vai contra a essência libertária do riso, se insinuando entre as palavras de Bergson. O que interessa ressaltar é que a dinâmica do riso detecta e aponta, no interior do nosso próprio corpo e de nossa mente mesma, a existência de um mecanismo que nos impede de agir com liberdade, um mecanismo que nos impele a seguir uma programação fixada. Seu funcionamento é análogo ao da sístase e, da mesma forma que esta, rastreando os diferentes níveis de operação do mecanismo, Bergson passará da esfera individual para o campo da sociedade, mostrando que, também aí, ele se encontra plenamente ativo:
Risível será, portanto, uma imagem que nos sugira a idéia de uma sociedade fantasiada e, por assim dizer, de uma mascarada social. Ora, essa idéia se forma logo que percebemos o que há de inerte, de pronto, de confeccionado enfim, na superfície da sociedade viva. É a rigidez outra vez, e que destoa da flexibilidade no interior da vida. O lado cerimonioso da vida social deverá, pois, conter uma comicidade latente, que só precisará de uma oportunidade para vir à luz.
O reconhecimento da mascarada social, o fato de que a vida em sociedade impõe determinados papéis que devemos cumprir mecanicamente, aliás, bastaria para mostrar como é problemática a idéia de que o riso seja um impulso corretivo que nasce da dinâmica social. Porque esta última participa, e de fato decorre, da lógica implacável do mecanismo, de tal forma que, se quisermos encontrar a fonte daquilo que em nós se opõe a ele, será preciso procurar em outro ponto que não o social.
Será, então, na natureza que o encontraremos? Não, porque imediatamente antes de tratar da mecânica social, Bergson já havia encontrado o mecanismo entranhado na própria natureza: "Uma natureza arremedada mecanicamente, esse é então um motivo francamente cômico, sobre o qual a imaginação poderá executar variações com a certeza de obter grande sucesso em matéria de riso." E cita como exemplo Tartarin sur les Alpes, primeiro romance da trilogia Tartaran de Tarascon, de Alphonse Daudet, no qual o protagonista descobre "que a Suíça é movida por maquinismos, como os porões da Ópera, explorada por uma companhia que ali mantém cascatas, geleiras e falsas fendas." Ao se superpor a regulamentação automática da sociedade à imagem de um mecanismo inserido na natureza, chega-se a uma conclusão cujo alcance ontológico o humor não deixou de explorar: "O resultado da combinação será, evidentemente, a idéia da regulamentação humana a substituir as leis da natureza."
É, nem mais, nem menos, a concepção gnóstica da natureza que reencontramos aqui, aquela mesma que também reaparece em filmes como O Show de Truman, de Peter Weir, e livros como Time Out of Joint, de Philip K. Dick, e naturalmente na trilogia Matrix, dos Irmãos Wachowski: a idéia de que o mundo que tomamos como natural é, na verdade, um cenário ou uma representação. E, como ocorre com a sístase gnóstica, o humor, ao menos na interpretação de Bergson, aponta para uma continuidade entre todos os níveis de funcionamento do mecanismo: "Assim, em resumo, o mesmo efeito vai sempre se sutilizando, desde a idéia de mecanização artificial do corpo humano, se assim pudermos nos expressar, até a de uma substituição qualquer do natural pelo artificial."
Trata-se da evolução mesma da sístase, que se implanta no organismo como um sistema de filtros e travas internalizados, os quais agem como filtros cognitivos que coordenam as relações do homem consigo mesmo, com os outros homens e com o mundo, gerando uma falsa realidade que ingenuamente tomamos como sendo a natureza. Mas qual a origem desse sistema? E por que ele veio a se constituir?
Uma zona intermediária. - A resposta de Bergson é dada no último capítulo de O Riso, quando ele abandona temporariamente o assunto do livro para tecer considerações sobre o objetivo da arte em geral. "Se nossos sentidos e nossa consciência fossem diretamente impressionados pela realidade", alega Bergson, "se pudéssemos entrar em comunicação imediata com as coisas e conosco, acredito que a arte seria inútil, ou melhor, que seríamos todos artistas, pois nossa alma vibraria então continuamente em uníssono com a natureza." Se precisamos da arte e dos artistas é precisamente porque isso não acontece: "Tudo isso está em torno de nós, tudo isso está em nós e no entanto nada de tudo isso é percebido por nós distintamente. Entre nós e a natureza - mas que digo -, entre nós e nossa própria consciência, interpõe-se um véu, véu espesso para o comum dos homens, véu leve, quase transparente, para o artista e o poeta."
Desnecessário dizer, esse véu é apenas outro nome para a sístase, cujo mecanismo Bergson vem decifrando ao longo de toda a obra. Inspirado pelo darwinismo, Bergson vai buscar suas causas nas vicissitudes da evolução, e sua hipótese foi a principal influência para a teoria do cérebro como válvula redutora que Aldous Huxley desenvolve em As Portas da Percepção: "Era preciso viver, e a vida exige que apreendamos as coisas na relação que elas têm com nossas necessidades. Viver consiste em agir. Viver é só aceitar dos objetos a impressão útil, para responder-lhes por reações apropriadas: as outras impressões devem obscurecer-se ou só nos chegar confusamente." Eis aí, portanto, a gênese daquela distração fundamental que faz com que o homem caia nos automatismos de percepção e comportamento denunciados pelo humor: "Eu olho e acredito ver, dou ouvidos e acredito ouvir, estudo-me e acredito ler no fundo de meu coração. Mas o que vejo e ouço do mundo exterior é simplesmente o que meus sentidos dele extraem para aclarar minha conduta; o que conheço de mim mesmo é o que aflora à superfície, o que toma parte da ação. Meus sentidos e minha consciência, portanto, só me entregam da realidade uma simplificação prática." A conclusão de Bergson, taxativa e inescapável, é a de que "não vemos as coisas mesmas; limitamo-nos, no mais das vezes, a ler etiquetas coladas sobre elas". Nossa realidade é feita de generalidades e símbolos, "uma zona intermediária entre as coisas e nós", que nos exclui ao mesmo tempo do mundo e de nós mesmos.
Mais importante ainda, essa simplificação prática, essas etiquetas coladas sobre as coisas não são uma criação exclusivamente minha, mas são impostas de fora, pela história, pela cultura e pela sociedade, a partir das quais "são-me traçados de antemão caminhos nos quais minha ação enveredará. Esses caminhos são aqueles pelos quais a humanidade inteira passou antes de mim". Os gnósticos chamavam esses "caminhos traçados de antemão" (e que, diria Heidegger, não conduzem a parte alguma) de heimarmene ou anankê, a fatalidade e a necessidade, que cerceiam a liberdade espontânea do indivíduo e o obrigam a viver de acordo com um destino predefinido, obedecendo a leis sobre as quais ele não tem nenhum controle. E tanto as imutáveis leis da natureza quanto as rígidas normas de conduta social, como o humor já havia intuído, não passam de manifestações locais desse mecanismo mais amplo, que nos aprisiona a todos em suas engrenagens.
É esse, portanto, o quadro contra o qual o riso se insurge, mesmo que (e até principalmente porque) aquele que ri e aquele que faz rir não tenham consciência disso. É um olhar implacável, que atravessa a realidade de um extremo a outro, devassando nossa sujeição ao mecanismo da sístase em todas as esferas da vida e revelando seu ponto de origem naquilo mesmo que consideramos (erroneamente, talvez) como o que temos de mais íntimo: nosso corpo e nosso caráter, nossa postura, enfim, no e diante do mundo.

Avaliem se a piada condiz com o que foi dito:

Vários amigos estavam tomando uma cervejinha no final da tarde de uma sexta-feira. Depois de algumas rodadas, com o efeito do álcool já aforando, um deles, de chofre, veio com essa conversa:

__ Joaquim, sabes que tua mulher está te traindo?

Todos foram pegos de surpresa.

__ E o pior, acresceu, só trai por trás: a famosa “gaia” de cu!

O clima ficou tenso. O Joaquim não sabia o que fazer: não sabia se quebrava a cara do sujeito (mui amigo), ou se ia embora. Para amenizar os efeitos da declaração, outro amigo saiu-se com essa:

__ Joaquim, não te preocupe com isso. Olha, vou te contar uma história, que a traição da tua mulher comprada com ela é um nada:

Quando eu tinha 18 anos, fui convidado para um baile de formatura de conclusão do 2º grau. Salão decorado, orquestra famosa, as moças de longo, os rapazes de blazer, enfim, todo o glamor necessário àquele acontecimento.
Pois bem, procurei no salão a moça mais bonita. Hesitei, num primeiro momento, em chamá-la para dançar: ela não me dava “bolas”. Mesmo assim arrisquei. Ela foi dançar comigo.
Conversa vai, conversa vem, papo legal, e eu na maior felicidade. De súbito, senti uma dorzinha de barriga, não dei importância. Acontece que a dor aumentou assustadoramente. Fiquei num dilema terrível: pedia para parar e corria o risco de perder a moça para outro, ou arriscaria soltar um “pum”, disfarçadamente, ali mesmo. Optei pela primeira alternativa.
Corri, fui a um banheiro, enfrentei uma fila, até que consegui sentar-me na bacia: fiz força e nada, só saiu um “punzinho”. Voltei ao salão, olhei para um lado, para o outro, e encontrei a moça. Felicidade, ninguém a tinha chamado para dançar. Renovei o pedido, e voltamos ao salão.
Passados alguns minutos de puro prazer, quem foi que voltou? A dorzinha. Cogitei comigo mesmo: ora, se fui ao banheiro e só saiu um punzinho, vou soltá-lo aqui mesmo no salão. Disfarçadamente, levantei um pouco a perna, fiz uma forcinha e . . . . MERDA! Foi merda meu amigo, foi merda para todo lado. Melou minha calça inteirinha, melou o vestido da moça, melou quem dançava junto, foi tanta merda fedida que até a orquestra parou de tocar. A moça só não me chamou de santo: cabra safado, cafajeste, cachorro, cagão, sem vergonha etc.


Nesse momento, Joaquim não suportou mais e perguntou: Tá bem, sei que tu és um cagão, e daí, o que isso tem a ver com a “gaia” da minha mulher?

__ Ora Joaquim, se o meu cu, que é meu e de mais ninguém, me traiu quando eu tinha 18 anos, quanto mais o da tua mulher, que nem teu é! Te liga cara!

Mudando de assunto, publico os gráficos das últimas corridas: 21km, no dia 08/03, 13,5 km, no dia 10/03, e 15Km, hoje. Todas elas em Brennand. Corremos eu e George.












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