quinta-feira, 16 de julho de 2009

Murro em ponta de faca!

Um advogado amigo de meu pai ostentava em seu escritório, com destaque, entre diversos diplomas, o que dizia o seguinte: “Diploma de vida. Acostumado a vencer dando murro em ponta de faca”. A máxima causou-me grande impacto, sobretudo porque o protagonista cursara diversas faculdades, inclusive com pós-graduações.

Naquele tempo, não pudia avaliar com clareza o seu real significado. Para mim, a formação superior era pressuposto necessário e suficiente para uma vida estável, em todos os sentidos. Foi com esse pensamento que cursei Engenharia Eletrônica, a mais concorrida, à época.

Enganei-me. As coisas não funcionam assim. Mormente porque a formação superior é dirigida para determinada área específica. De maneira que o mecanicismo incrustado em mim ruiu logo após o término da faculdade.

Foi tanto que me vi “num mato sem cachorro”: o que faria com o diploma? Emprego não havia. A cabeça cheia de integrais e derivadas, que, com licença da palavra, até hoje não serviram pra “porra” nenhuma. Inexperiente que só. Totalmente inseguro. Um nada.

Por puro lance do destino, pelo menos financeiramente, consegui estabilidade. Passei em concurso público. Mas não posso dizer, efetivamente, que isso era o sonho de minha vida. Fazer o quê?

Ao longo desses vinte e três anos de serviço, entretanto, acho que me adaptei a essa nova realidade. Sinto-me, de certa forma, profissionalmente realizado.

Em verdade, acho que nunca dei murro em ponta de faca, mas se fosse eleger o diploma mais importante, a ficar na posição de destaque, seria o de maratonista. É por esse que tenho “trabalhado” nos últimos anos.

Falando em passado, transcrevo excertos da obra monumental de Marcel Proust, “Em busca do tempo perdido – No Caminho de Swann” (esse primeiro volume eu li rsrsrsrs):

A imobilidade das coisas que nos cercam talvez lhes seja imposta por nossa certeza de que essas coisas são elas mesmas e não outras, pela imobilidade de nosso pensamento perante elas.

Fazia muitos anos que, de Combray, tudo que não fosse o teatro e o drama do meu deitar não existia mais para mim, quando num dia de inverno, chegando eu em casa, minha mãe, vendo-me com frio, propôs que tomasse, contra meus hábitos, um pouco de chá. A princípio recusei e, nem sei bem por que, acabei aceitando. Ela mandou buscar um desses biscoitos curtos e rechonchudos chamados madeleines, que parecem ter sido moldados na valva estriada de uma concha de São Tiago. E logo, maquinalmente, acabrunhado pelo dia tristonho e a perspectiva de um dia seguinte igualmente sombrio, levei a boca uma colherada de chá onde deixara amolecer um pedaço de madeleine. Mas no mesmo instante em que esse gole, misturado com os farelos do biscoito, tocou-me o paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem a noção de sua causa. Rapidamente se me tornaram indiferentes as vicissitudes da minha vida, inofensivos os seus desastres, ilusória a sua brevidade, da mesma forma como opera o amor, enchendo-me de uma essência preciosa, ou antes, essa essência não estava em mim, ela era eu.

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