sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Socialista sou eu!
Socialista sou eu.
Quando entrei na Faculdade de engenharia, em 1979, andava de ônibus. Nunca gostei. Pouco tempo depois, comprei uma caloi 10. De maneira que engolia a Caxangá quase que diariamente, pois morava bem pertinho do Parque da Exposição de Animais.
Enxergava aquela avenida que fica ao lado da escola de medicina como uma via infinita. Imaginava-me percorrendo-a em cima de uma moto. À conta de duas monitorias, bolsa do CNPQ e ajuda complementar de minha genitora, sempre presente nestes aspectos, comprei uma “motinha” que me serviu deveras; inclusive em casos amorosos. Se bem que de bicicleta fazia algumas investidas inusitadas, como visitar o famoso “Green Capins”.
Mas que depois da moto, migrei para o automóvel, um chevete, de vez.
Nunca gostei de trânsito engarrafado. Se bem que naqueles tempos ainda era bem suportável, diferentemente de hoje em dia. Mas ter carro é muito bom. Pode-se sair a qualquer momento, voltar à hora que quiser. Com efeito, é uma máquina que proporciona liberdade; ou proporcionava até certo tempo atrás.
Depois desses anos todos percebi que quando se anda de carro, e somente de carro, fica-se meio solitário, distante das pessoas. De maneira que essas caminhadas que tenho feito do trabalho pra casa em muito têm me ajudado. Mas às vezes são cansativas, pois que corro pela manhã e ainda ando de bike.
Dia desses, passando pelo cruzamento da Rosa e Silva com rua Amélia, avistei um “sítio dos pintos”, que é um bairro que fica depois do Horto de Dois Irmãos. E aí me bateu na cachola a possibilidade de pegá-lo pra voltar pra casa. De maneira que quando cheguei na Jaqueira, chupei três laranjas e retornei pra Rosa e Silva. Fiquei numa parada quase em frente a uma Padaria. Deu-me vontade de comprar pão, mas desisti porque engorda.
Como o “Sítio dos Pintos” não passava, peguei um “Rui Barbosa Dois irmãos”, que vinha vazio. Sentei numa cadeira já perto da porta de saída e liguei o rádio em Mução pra ouvir a pegadinha (já era perto das dezoito horas). Até a Dezessete de agosto ele andou no passo de tartaruga, mas ainda vazio. Depois da primeira Farmácia dos Pobres, pois na 17 de agosto tem três farmácias dos pobres (ou há muitos pobres ou muito doentes), começou a encher, encher e encher. Acho que são pessoas que vão pra Universidade Rural; só pode ser isso.
Faltando umas três paradas, resolvi levantar-me e ficar mais perto da porta de saída. Um gordão queria porque queria ficar na minha frente, como se eu fosse invisível. Mas o alertei que tivesse calma, o que ele aceitou numa boa, acho que por conta da sua namorada que parecia ser gente decente.
Desci satisfeito e ainda caminhei um quilômetro até chegar ao prédio. Fiquei com um pouco de medo pois que a rua tem iluminação deficiente(eufemismo de escura).
Mas descobri que todos os ônibus que passam na Rosa e Silva passam perto do mercado de Casa Amarela, onde eu compro queijo de coalho, inhame, batata e coisas do tipo.
Déjà vu
Almoçando hoje com Bia, ela me falou que tava com sensação de Déjà vu. Fiquei embasbacado pois ela só tem sete anos e meio. Tinha que o seu substrato mental ainda não armazenara informações que pudessem ser percebidas como acontecendo de novo. A cada dia uma nova surpresa. Essas crianças de hoje não são como as de antigamente com certeza. A era da computação ampliou os horizontes; hoje é mais fácil de se aprender as coisas. Não que isso impeça ou modifique algumas particularidades que, acho, são inatas. A preguiça é uma dessas. Quem é preguiçoso é por natureza. Não me venham dizer que preguiça se aprende, pois tenho convicção inelutável de que não se aprende.
Há dias em que ela não quer ir pra escola. Aí se apoia nos quase sempre infalíveis estratagemas: dor de cabeça, dor de barriga, dor na perna e por aí vai. Como estava meio aborrecido porque ela não estava fazendo os deveres de casa, o rol de doenças que me apresentou não foi suficiente ao meu convencimento de dispensá-la de ir pra escola quinta-feira passada. Mas depois de refletir bem e de mais uma dor de garganta que apareceu de forma repentina e proposital ao seu intento de passar a manhã na frente da televisão e ler um livro que baixei no Kobo exclusivamente pra ela, cedi. Mas cedi numa boa.
Não me apoquento com essas coisas de ela não querer ir pra aula algumas vezes; às vezes até em dias seguidos. Vejo a “problemática” de soslaio, de bandinha. Quando era criança nunca ninguém me obrigou a ir pra escola ou a estudar. E muita vez faltava às aulas. Mas como era muito amostrado e queria estar sempre em evidência estudava “sponte propria”, particularidade que me acompanhou até muitos anos depois.
Mas criança é criança e nada mais do que criança. Tem que brincar, assistir televisão, comer guloseimas e faltar às aulas de vez em quando, pois com efeito ouvir essas professoras primárias uma manhã inteirinha não é mole.
E me lembrei, não sei por que, de metempsicose. Se a crença com efeito tiver algum valor, pode ser que estejamos maltratando alguns de nossos antepassados sem perceber. Mas tudo fica no campo das conjecturas. Pra mim não vale quase nada, ou melhor, nada mesmo, pois que acredito que quando se morre os tapurus comem até a alma.
De maneira que, repiso, pra mim, se for pra fazer alguma coisa boa que se faça nessa vida e se for esperar alguma recompensa por isso que a espere vir de dentro de seu próprio eu, de sua consciência. E por falar em consciência lembrei-me de Antônio Damásio, grande neuro cientista português que vem inculcando, por meio de suas pesquisas, a estrita e necessária relação entre corpo e mente. Vem por tabela confirmar a grave e antiga máxima “mens sana in corpore sano”.
De peito aberto
Com efeito sou baixinho: 162 cm. Pareço menor quando tiro foto perto de George (185 cm) ou de Fernando (194 cm), amigos corredores. Poderia preparar um ângulo que me mostrasse maior, acho que me seria de muita valia dado a importância que dou ao assunto. Fico muito alegre em saber que um jogador da seleção brasileira, que agora não me recordo o nome, tem a minha altura. Deve ser muito difícil pra ele enfrentar aqueles varapaus europeus, como o é para mim segurar na barra superior dos ônibus. Acho que outra dificuldade significativa é beijar mulheres mais altas, pois que a situação impinge certo grau de inferioridade, de submissão, o que não acontece no caso de a mulher ser menor. Quanto ao sexo, não vejo problema, e isso nunca me afetou de fato, mesmo em posições não usuais, como quando se usa da verticalidade para o ato. Mas que não se pode fugir da regra, concluída com muito esforço e labuta, da física: quanto maior é o objeto maior é o esforço em mantê-lo, por certo tempo, em determinada posição. Nesse quadro, não me parece que a falta de cabelo tenha alguma influência no que estou a tratar; o tamanho, que também não pode ser muito pequeno pra não causar efeito psicológico negativo, todavia é de suma importância.
Sinto certo orgulho em falar de pessoas baixinhas marcadas para sempre na história da Humanidade. Não que acredite tenha sido a baixa estatura a causa de sua glória. O ser humano é muito competitivo, decerto resquícios do tempo das cavernas, e a particularidade serve como argumento pra qualquer embate. Em particular, já mencionei Getúlio Vargas, que media 160 cm e tinha uma raiva da gota disso. Malgrado a loucura que o acometeu, levando-o ao suicídio, em vida, não obstante aquela barriga nada sexy, foi homem de várias amantes __ a disputa não se tratava de questões políticas, e sim de questões sentimentais, se assim se pode dizer.
Mas que deixo pra lá o assunto, não obstante repisar a sua grande importância, e tergiverso sobre questões totalmente, integralmente, propositadamente fora do contexto. Discordo da legislação, fiada em regra presuntiva, que concede à mulher direito à parcela dos bens do marido em face de separação do casal, quando tudo leva a crer em nada ela contribuiu para a formação desses bens. Sem entrar em filigranas jurídicas, por não caberem e serem deveras inconvenientes neste ambiente de discussões amenas, digo categoricamente, pois que assim acho, com forte convicção, esposa não é família. Esposa é hoje não é amanhã; às vezes, não obstante os respectivos documentos comprobatórios, nem hoje lato sensu. Família é pai, mãe, filhos e, em parte, irmãos. Esse é meu sentir, que exponho de peito aberto depois de correr 27 Km, neste sete de setembro em que há promessa de se andar nu de bike no centro desse Recife velho e carcomido por série de larápios travestidos de gestores públicos.
Eu que contribuí com líquido seminal na geração de um ser vivo, por acaso do destino, malgrado ter desperdiçado muita vez prováveis leitores de Bukowski, só depois dos 40, tive a grata surpresa de constatar o amor de verdade, o que de fato revela o elo semântico do termo, ser o de pai por filho, nessa exclusiva ordem hereditária, que surge e mantém-se sem exigências, sem cobranças, e que a tudo se conforma. Lendo Philip Roth (Homem Comum), percebi a genialidade do autor ao se referir ao assunto. Se tiver tempo e vontade leia-o, vale a pena.
Não digo não exista amor fora do seio familiar. Dia desses, li reportagem de mulher que doou um rim à amiga. Porra, ou essa mulher é doida, ou com efeito o seu ato foi de amor verdadeiro. De minha parte, só doaria parte de meu corpo pra minha filha, de forma incondicional. Até mesmo o coração, que já é dela de fato. Pra o resto, meu apoio com palavras e coisa e tal.
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