domingo, 21 de abril de 2013

Mecanicismo

Mecanicismo grosso modo é uma teoria filosófica determinista segundo a qual todos os fenômenos se explicam pela causalidade mecânica ou em analogia à causalidade mecânica (causalidade linear ou, instrumentalmente, como meio para uma causa final). Mas tem certas coisas que não se explicam. Vou dizer uma na bucha: amor. Sobre o sentimento, assim se expressou o poeta maior português: Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É um cuidar que se ganha em se perder. É querer estar preso por vontade É servir a quem vence o vencedor, É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade; Se tão contrário a si é o mesmo amor? Há certos indícios. Vá lá a atração, que não prescinde de antemão de certas particularidades físicas, seja aperitivo, mas com efeito nem perto chega. O respeito, a consideração, a amizade, o companheirismo, tudo enfim leva ao sentimento, mas não se pode dizer constituam premissas necessárias. A não ser assim, o “gaiúdo não tinha tanto amor pela traíra. Interessante o amor porvir. Nunca te vi sempre te amei. Aqui, pura invencionice da solidão. Alguns entendem o amor que fica, ou o amor verdadeiro seja o amor de Pica. Em realidade, pode-se tripartir o amor em Agapê, Fileo e Eros. O primeiro é o incondicional: eu te amo mesmo que tu não me ames. O segundo, é o retributivo: retribui-se o amor na medida do amor que se recebe. O último, o relacionado ao sexo. Não acredito este último seja o que fica. Se fosse assim, as prostitutas, experts na arte do prazer, “prenderiam” todos os seus amantes. Demais, sexo é sexo. Fazer “amor” é bom em si. Sinceramente, com pouco amor é bem melhor. Mas retorno às causas. Há mais mistérios entre o amor e as suas causas do que julga nossa vã psicologia.

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