sábado, 19 de janeiro de 2013

Call Center


Sábado passado, dei um ré involuntário e destruí o pára-choque do carro do vizinho. O fato me constrangeu. Porra, o carro parado na garagem! Quanto ao dano material, não tive preocupação; o seguro paga.  E paga integral. Não há franquia quanto a dano em carro de terceiro.
Como  contratei o seguro no Banco do Brasil, sem a intermediação de corretor, tive eu mesmo que efetuar a abertura do sinistro. Para que o seguro autorize o serviço no carro da vítima, há que se fazer o boletim de ocorrência e abrir sinistro em seu nome, comunicando-se o número do registro do sinistro do segurado. Tudo muito simples e rápido.
Mas envolve o Call Center. Aí, o problema. Não sei por que, mas não me dou bem com esse tipo de atendimento. Não sei se é a voz (geralmente, sotaque do interior paulista), ou se é a maneira de tratar: “disfarçatês (neologismo) de reverência”. O fato é que não me dou bem.
Certa vez tive embate com atendente da SKY.
__Pois não senhor?
__O sinal caiu, não estou conseguindo acessar os canais.
__O senhor já viu se o cabo da antena está conectado?
__Está.
__Está chovendo?
__Choveu um pouco, mas parou.
__Então o senhor tem que esperar um tempo e religar o aparelho.
__Mas o aparelho está ligado, o que falta é o sinal. Não há um procedimento que vocês adotam que faz um boot no sistema e o sinal volta? Já fiz isso outras vezes.
__Senhor. Como choveu, o senhor tem que esperar um pouco.
__Minha filha, já choveu outras vezes e não houve perda de sinal . . .
__Senhor, o procedimento é esse.
__Não é não minha filha. Já liguei outras vezes e procederam com o Boot.
__Senhor, não há por que fazer o boot. O senhor deve esperar.
__Minha filha, qual o problema em fazer o boot?
__Senhor!  O senhor tem que esperar.
__Esperar coisa nenhuma, pago um fortuna e não tenho o sinal.
__Senhor! O senhor deve esperar.
__Esperar porra nenhuma. E acabe com essa merda de me chamar de senhor. Senhor uma bosta!
__Senhor, vou desligar o telefone.
__Vá à puta que a pariu. Não desligue não, enfie no cu.
Não foi diferente com a comunicação do sinistro do vizinho. Pela manhã, uma atendente me informou que eu (segurado) poderia fazer  a comunicação em nome da vítima, desde que tivesse todos os documentos necessários. À tarde, já de posse dos documentos, liguei novamente.
__Queria fazer a comunicação de sinistro de terceiro.
__O Senhor é o terceiro?
__Não, sou o segurado, mas estou com todos os documentos necessários.
__O Senhor não pode fazer a comunicação em nome de terceiro.
__Mas uma colega sua afirmou hoje pela manhã que podia.
__O senhor não pode.
__Mas por que não pode?
__Somente ele é quem pode fazer.
__Mas se ele estivesse sem poder falar?
__O senhor, segurado, não pode fazer em nome dele?
__E a mulher dele pode?
__Pode.
__E um corretor, pode?
__Pode.
__Então, por que eu não posso?
__O senhor não pode.
__E se eu me passasse por ele?
__O senhor estaria mentindo . . .
__Há quantas atendentes aí?
__Vinte e nove.
__Tchau!
Com efeito, não me dou bem com Call Center. As (os)  atendentes não têm discernimento, e às vezes se afobam. Pior é quando descobrem que estão falando com alguém do nordeste.
É inegável, há grande discriminação do sul/sudeste com o resto do país. Imagino o inconveniente de aguentar um nordestino como Lula na presidência da república. Pior do que a aceitação de Obama nos EUA.
Não vejo motivo para isso entretanto. Tenho uma amiga que diz que se tem cu é a mesma coisa. Acredito que seja assim. Por que no que diz respeito (parafraseando Dilma) à cultura, à inteligência e outras “coisitas” do gênero, sou mais o nordeste.
Há uns vinte anos, fui à Curitiba participar de curso de formação de professor. Gente de todo país. Nunca dei uma aula em toda na minha vida. Sou até meio gago quando fico nervoso. De maneira que no dia anterior à prova, que era dar uma aula, tomei chopp à noite inteirinha. Falei mais do que locutor de jogo de futebol.
Tinha um gaúcho que se achava o tal. Ar de superioridade.  Nem sei se era de pelotas. Só sei que estragava paletó todos os dias. No dia da prova, sem mais nem menos, começou a chorar. Uma negação.
Descobriu-se que estava curtindo mágoas de uma “gaia” recente. E que inclusive tentara pular da janela do apartamento, propósito não alcançado ante o conselho da mulher: Ô Tchê, te coloquei um par de chifres e não um par de asas.

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