sábado, 31 de março de 2012


O TESTE
Luis Fernando Veríssimo

Ele e ela atirados no sofá, cada um para um lado. Ela lendo uma revista, ele lendo um jornal. Ela se debruça por cima dele, procurando  alguma coisa na mesinha ao lado do sofá, depois enfiando a mão entre as pernas dele e o estofamento. Ele pensa que a intenção dela é outra e se entusiasma.

- Epa. Opa. É por isso que eu gosto dessas revistas femininas. São puro sexo . . . Cento e dezessete maneiras de atingir o orgasmo usando utensílios domésticos, inclusive o seu marido. Chuchu, esse afrodisíaco desconhecido. Você também pode ter os seios novos da Xuxa, quando ela não estiver usando . . . Vocês começam a ler essas revistas, se excitam e ...

- Encontrei.

- Claro que encontrou. Você pensou que ele tivesse se mudado? Continua no . . .

- O lápis. Eu sabia que ele estava dentro do sofá.

- Lápis?

- Pra fazer este teste da revista. Vamos lá. “Você chega em casa e diz que precisa fazer uma reavaliação das suas prioridades, recuperar o seu espaço pessoal e dar um tempo para o casamento, e declara que vai viajar sozinha. Ele a) dirá que tudo bem, desde que você faça um rancho no supermercado antes de ir, b) acusará você de ter um amante e exigirá saber quem é, c) dará uma risada e dirá “boa, boa, conta outra” ou d) dirá que entende você e apóia sua decisão.” “Você”, no caso, sou eu.

- E “ele” sou eu?

- “Ele” é você.

- D.

- O quê

- D. A resposta dele, que sou eu, é D.

- Você me entenderia e me apoiaria?

- Sem a menor dúvida.

Ela anota com o lápis, não muito convencida, e continua.

- “Ele tem um hábito que você não suporta, mas nunca mencionou. Um dia você resolve falar e pede que ele pare, senão você enlouquece. Ele a) dirá que você tem vários hábitos que também o deixam maluco e só para se você parar, b) dirá que devemos aceitar as pessoas como elas são, com todas as suas imperfeições, e que você está sendo insensível e intolerante, c) dirá que fará o possível para parar, pois a sua aprovação é a coisa que ele mais preza, ou d) negará que tenha o hábito e dirá que você só está atrás de um motivo para criticá-lo”.

- C.

- C?

- Ele disse C.

- Se eu pedisse para você abandonar um hábito que me incomodasse . . .

- Eu pararia na hora.

- Mesmo?

- Mesmo.

Ela anota e recomeça a leitura.

- “Você . . .”

- Espera um pouquinho. Esse teste não é pra mim. É pra você. É para a mulher responder o que espera do marido. Que tipo de homem ela pensa que ele é. No final, dependendo das respostas, a revista diz “Separa-se desse monstro imediatamente!” Ninguém quer saber as nossas respostas. Desprezam a nossa autoavaliação.

- Não é bem assim . . .

- É, sim. É por isso que eu não gosto de revistas femininas. Não têm o menor interesse em homem, a não ser como objeto sexual. São feitas por mulheres para mulheres. E o que é que mulher mais gosta de ler, ouvir e ver? Outras mulheres. Alguém já viu homem na capa de uma revista feminina? Nunca. É tudo narcisismo. Delas para elas. Até os testes.

Ela atira a revista e o lápis longe.

- Pronto. Acabou o teste.

Ela o abraça.

- Ficou bravinho, ficou?

Ela o beija. Ele se deixa beijar. Ela o beija com mais ardor. Ele enfia a mão entre as pernas  dela. Ela faz “Mmmmmm. É assim que eu gosto”. Ele diz:

- Encontrei.

- O quê?

- O controle remoto.

E liga a televisão.

domingo, 25 de março de 2012

Treino Misto: Estrada do Encanamento - Marco Zero + Corrida das Pontes.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Preconceito.

Recentemente, li post no face sobre o roubo de uma bicicleta. Na descrição do meliante, disse-se que o sujeito era um negro alto, usava bermuda etc. Solicitou-se a todos que compartilhassem a foto da magrela.

Como sói acontecer nesses casos, “choveu” comentários. A maioria solidária com a vítima. Um deles entretanto a criticava por supostamente ter sido racista na descrição do larápio: “Negro alto?!”

Reli o post. Tentei entrever algum resíduo de discriminação. Nada. Descrição curta e grossa. Uma linha.

Não me contive. Depois de ver o perfil da revoltada __ “branquelinha” de 21 anos __ contrapus que a sua revolta era sem causa. Silenciou-se.

Recentemente, vi ex-colega da FDR posicionando-se contra o sistema de cotas para negros nas universidades federais. Veemência impressionante.

Pode parecer contraditório, mas as atitudes em tudo se assemelham. A questão do racismo é mote para aparecer-se. Dá status defender a idéia de que a criação de cotas é atitude racista. É chique dizer-se não racista.

Sociedadezinha hipócrita. Lobos em pele de cordeiro.

Quanto a mim, sou racista: prefiro as de cor escura (eufemismo) às branquelas, são mais justas (literalmente), acoplam.